Notícias
Compartilhar

Juventude, direito à comunicação e representatividade na mídia são temas abordados em formação com jovens monitores/as

Formação contou com experiências como o Blogueiras Negras, Periferia em Movimento e Blog Mural

Comunicação, liberdade de expressão e democratização da mídia. Esses temas foram debatidos na formação teórica geral com os jovens monitores/as culturais das Bibliotecas Públicas, do CCJ – Centro Cultural da Juventude e do Museu da Cidade e Arquivo Histórico na segunda-feira (10/08).

Para abordar conceitos e questões relacionadas à comunicação, Juliane Cintra, coordenadora de comunicação da Ação Educativa, e Denise Eloy, jornalista da organização, iniciaram a formação com a exibição do vídeo “Lula não esconde de ninguém ‘imprensa boa é imprensa calada”, comentário feito pela jornalista Rachel Sherazade no canal do Youtube da Jovem Pan Online.

A ideia era partir deste vídeo e desconstruir os argumentos apresentados por Sherazade, apresentando dados, subsídios e informações sobre direito à comunicação e liberdade de expressão.

Elas realizaram uma exposição sobre a concentração midiática brasileira e apresentaram o alto faturamento das quatro maiores empresas de comunicação no Brasil, debatendo inclusive a concentração midiática territorial (muito localizada no eixo Rio-São Paulo) e as receitas com publicidade nas rádios brasileiras.

O Relatório Final da Subcomissão Especial Formas de financiamento de mídias alternativas, de uma Comissão Especial da Câmara dos Deputados, de outubro de 2013, apresenta que o faturamento total dos meios de comunicação foi de R$ 16,6 bilhões em 2012, sendo que a televisão se apoderou de mais de R$ 10,8 bilhões (64,8%). Este valor foi majoritariamente distribuído entre as quatro maiores empresas do setor: Rede Globo, Record, SBT e Band.

As jornalistas falaram sobre os conceitos de regulação da mídia e censura, na tentativa de desmistificar a abordagem nebulosa da grande mídia, que define os dois conceitos como sinônimos. “Regulação da mídia é um conceito comumente associado a arbitrariedade, a censura, mas temos de estar atentos, isso não ocorre por acaso. Estamos em um cenário de extrema concentração, informação vale caro e os meios para sua difusão mais ainda. Acompanhar esses processos no sentido de assegurar o simples cumprimento da lei significa incidir em uma estrutura rígida, com atores e papeis bem definidos no sentido de assegurar o funcionamento dos meios de comunicação voltado exclusivamente para o lucro dos donos da mídia. O que estamos falando é de disputa de poder, é de lutar para que um bem público, um direito humano, funcione em uma lógica diferente da imposta pelo capital. A confusão em torno deste debate está a serviço das grandes corporações”, afirmou Juliane.

As jornalistas trouxeram modelos de regulamentação de outros países, como França e Inglaterra, em que os departamentos estatais responsáveis acompanham os meios de comunicação nacionais e os regulamentam para que cumpram determinadas normas, como o respeito à dignidade humana, a luta contra as discriminações, o tratamento correto das questões jurídicas (como a presunção de inocência), a proteção da ordem pública, o respeito à vida privada e a veracidade e independência da informação.

Através de recursos audiovisuais, as jornalistas propuseram um debate sobre como a cultura comunicacional brasileira está diretamente ligada à construção e intensificação de determinadas discursos na opinião pública. Como exemplo, trouxeram o caso dos chamados programas policialescos e a pauta da redução da maioridade penal.

Ao final do período da manhã, os jovens tiveram que refletir em grupos sobre casos de violação dos direitos humanos na mídia, a partir de suas experiências. Cada grupo pôde descrever a violação, explicar porque se tratava de uma violação e as sanções necessárias em cada caso específico. Os grupos compartilharam alguns casos e realizaram uma discussão em cima dos conceitos abordados durante a formação.

 

Direito à comunicação da juventude e representatividade

Como a juventude está exercendo seu direito à comunicação? As juventudes estão sendo representadas na grande mídia? Foi a partir de questões como essas que a mesa de diálogo do período da tarde abordou direito humano à comunicação, juventude e território a partir de iniciativas diferentes. Estiveram presentes Nênis Vieira, do Blogueiras Negras; Vagner de Alencar, do Blog Mural; e Thiago Borges, do Periferia em Movimento.

O blog de correspondentes comunitários das periferias de São Paulo, Blog Mural, conta com cerca de 40 jovens em sua maioria estudantes ou já formados em jornalismo, interessados em contar o que se passa na região onde moram.

Vagner compartilhou com os/as jovens monitores/as culturais a história do projeto, como funcionam as coberturas e trouxe casos em que a produção das reportagens reverberaram em melhorias nos locais. A ideia agora é, segundo Vagner, ampliar a plataforma e transformá-la em agência de comunicação, que abarcará outros projetos desenvolvidos pelos jovens jornalistas, como as formações de comunicação que realizam em escolas públicas. “A gente tem esse poder [de comunicar]”.

Vagner é autor do livro “Cidade do Paraíso – Há vida na maior favela de São Paulo”, trabalho de conclusão de curso que posteriormente foi publicado pela Primavera Editorial. Ele pôde compartilhar também com os jovens esse processo de produção e escrita. Como morador de Paraisópolis, sua ideia no livro era retratar o outro lado da comunidade, um local cheio de vida e de histórias diferentes.

Thiago Borges compartilhou o nascimento do Periferia em Movimento, veículo idealizado como trabalho de conclusão de curso da faculdade de jornalismo e cuja motivação foi a representação da periferia na mídia, que não correspondia a como ela era na realidade. O veículo se tornou um portal de notícias da Zona Sul de São Paulo, ganhando o mundo e se efetivando como um meio de comunicação da periferia, pela e para a periferia, abrindo diversos caminhos para os idealizadores do projeto. “A gente amplia o conceito de periferias […], também abordamos periferias em outros sentidos: social, econômica, política, da mídia. Estamos à margem dos holofotes da mídia”.

Já Nênis Vieira fez uma fala sobre o objetivo do Blogueiras Negras, site voltado para as mulheres negras e que fala de temas como identidade, resistência, saúde, beleza, estilo de vida e artes. O Blogueiras nasceu nas redes a partir de uma articulação de mulheres negras que queriam falar para outras mulheres negras. Começou com 14 mulheres e atualmente conta com uma comunidade virtual com mais de 1500 mulheres e 270 autoras, que colaboram com os textos.

“O Blogueiras Negras não é só uma questão de dar essa voz, é uma questão de mostrar que a voz é sua. […] O projeto se faz por todas as pessoas que participam, participaram e ainda vão participar dele”.

Nênis falou sobre representatividade na mídia, o papel do Blogueiras Negras e suas dificuldades. “É um trabalho de conhecimento, reconhecimento e empoderamento. Não só usando a comunicação, mas usando a palavra, o olhar”.

Ao final da formação, os jovens puderam fazer perguntas e observações sobre as iniciativas, compartilhando com os/as convidados/as, também jovens, as dificuldades relacionadas ao campo da comunicação.

Comentários: