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Juventude, participação e políticas públicas: compondo eixo temático da formação, temas são abordados com jovens monitores/as culturais

Entendendo a importância do debate para o Programa Jovem Monitor/a, formações de juventude deram um panorama sobre a questão no nosso país

Na última formação do ciclo sobre juventudes no Programa Jovem Monitor/a Cultural, a participação e as políticas públicas foram o centro do debate. Na segunda-feira (18/05), no Centro Cultural São Paulo, estiveram presentes Renato Almeida, da Secretaria Municipal da Cultura, Jordana Pereira, da Coordenação de Políticas para a Juventude e Lira Alli, do Levante Popular da Juventude.

Abrindo a discussão sobre juventude, mobilização e participação, Renato Almeida fez um breve histórico do processo de criação de políticas públicas para a juventude, afirmando que pensá-las no contexto brasileiro ainda é algo muito recente. Segundo o assessor, nos anos 1980, o tema era praticamente inexistente. Na Constituição brasileira, até julho de 2013, não havia nada específico sobre juventude.

Com o bônus demográfico dos anos 1990, a população jovem aumentou, chamando a atenção da sociedade civil organizada e do poder público, que passaram a refletir sobre as ações voltadas para ela. No fim daquela década, falar de juventude era falar de dois temas: gravidez e drogas. A juventude saía da inviabilidade e da marginalidade social para se tornar um problema. Com o tempo, outras visões surgiram e, na atualidade, uma das perspectivas considera o jovem enquanto sujeito de direitos.

Nesse sentido, é importante colocar que ser jovem é um papel construído socialmente. “Falar de juventude,  falar  de  jovem,  é  uma  coisa  que  se  altera  na  história”, afirma Renato. Sendo assim, ser jovem nos anos 1930 é diferente de ser jovem nos anos 1950. Ele ressaltou que devemos ter cuidado para “não naturalizarmos  determinados processos que são sociais”.

 

Participação e políticas públicas

De acordo com Renato, era muito comum falar da juventude dos anos 1960 como a juventude idealista, política, que queria mudar a sociedade desigual. A juventude dos  anos 1990, no  senso comum, era considerada consumista, hedonista, indiferente à política. Mas, de acordo com Renato, essa juventude “referência” dos anos 1960 precisa ser contextualizada, já que boa parte da juventude ainda estava no campo naquela época, enquanto aqueles que foram para as universidades eram um grupo muito reduzido.

É a partir dos anos 1980 e 1990 que se iniciam as novas formas de participação. A juventude começa a se articular através de movimentos culturais, como o punk, o hip hop, construindo um processo de resistência simbólica. “Fazer uma resistência também no campo da cultura era e é fundamental”, opina Renato. Para ele, o movimento que as periferias vivem na cultura atualmente começou nesse período.

Na atualidade, segundo Jordana Pereira, da Coordenação de Políticas para a Juventude da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, conselhos e conferências não dão conta mais das maneiras de participação da juventude. Jordana conta, como exemplo, um diagnóstico feito pela Coordenação: o jovem da cidade demandava mais espaços de participação, com foco no direito à cidade e à mobilidade urbana  –  como as jornadas de junho de 2013 mostraram.

Para Jordana, as políticas públicas devem articular os jovens nos territórios. Nesse sentido, a Coordenação de Políticas para a Juventude atua no tripé cultura, trabalho e educação. A ideia é desenvolver políticas transversais com outras secretarias, o que se constitui como um desafio na opinião de Jordana. Pretendem ampliar a atuação cultural dos jovens nas comunidades e fortalecer a discussão sobre participação política. “O grande desafio que está colocado pra gestão pública é como construir canais de participação política mais efetivos, que não sejam esses burocráticos”.

Já Lira Alli, do Levante Popular da Juventude, trouxe a perspectiva do movimento para o diálogo com os jovens. Apontou que o mundo em que vivemos é capitalista, imperialista, patriarcal e racista e que se perdermos a capacidade de enxergar essas perspectivas em termos de mundo, também não conseguimos avançar nas lutas sociais brasileiras.

O Levante Popular da Juventude nasceu do Movimento dos Trabalhadores Rurais (MST), a partir da constatação de que era necessário articular os jovens dos grandes centros urbanos. É calcado no tripé organização, formação e luta.

Lira teceu um panorama sobre a recente democracia brasileira, seus limites e os projetos de país representados pelos partidos. Apesar das políticas de redistribuição de renda fortalecidas nos últimos anos, ainda não foram realizadas políticas estruturais capazes de romper com o sistema capitalista. Embora, na opinião de  Lira, a autoestima da juventude tenha mudado incomparavelmente com tais políticas, a avaliação é de que os avanços ainda são poucos e a ausência de transformações estruturais é central.

Para ela, a construção de um projeto popular para o país não é realizada nas urnas e o entendimento da conjuntura política brasileira e internacional é fundamental para compreender as pautas centrais de luta e o relacionamento com o poder público. “Junho de 2013 faz parte desse processo de que o novo não nasceu e o velho não morreu”. Lira aponta que as políticas públicas só fazem sentido quando garantimos movimentos sociais com autonomia.

Após as exposições, os/as jovens puderam dialogar com os/as convidados, trazendo questões relacionadas ao Programa Jovem Monitor/a Cultural, à mobilização do Levante Popular da Juventude nas universidades, às formas de mobilização, entre outros temas.

 

Círculo de diálogo “Juventudes”, @s Jovens Monitor@s por el@s mesm@s

No período da tarde, ocorreu um círculo de diálogo dos jovens monitores/as sobre as temáticas que compuseram o eixo de juventude da formação.

Os/as  jovens debateram a escola atualmente, seu sentido e seu papel enquanto instituição, refletindo sobre como trazer mais sentido para o processo escolar, como repensar seu modelo. Falaram ainda, em conjunto, sobre a relação juventude e educação, sobre ser jovem monitor/a cultural, suas demandas nesse tipo de atuação, a força de uma articulação entre eles/as e a necessidade de criação de uma rede de jovens monitores/as.

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