No início de junho, como parte das comemorações dos 20 anos da Ação Educativa, o programa Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião promoveu o debate “Práticas de Educadoras: um exercício de reflexão”. O evento reuniu as 15 autoras das publicações “Práticas de educadoras” e “Olhar a prática: um exercício de reflexão”, experiências que despontaram da sistematização das práticas que as docentes vem realizando em sala de aula com o conteúdo das pesquisas educativas, usando o Nepso como metodologia.
O processo de construção das sistematizações e, consequentemente, das publicações, foi de intenso trabalho, em que a equipe Nepso e as educadoras estiveram em constante diálogo, através de leituras, devolutivas e construção dos textos.
Para a coordenadora geral do Nepso, Marilse Araújo, o principal objetivo das publicações é partilhar a “vida que pulsa nas salas de aula, os seus sentimentos, desejos, desafios e aprendizagens dos principais sujeitos que estão em relação: educadores e educandos”. Assim como, contribuir para valorização do ofício do docente, incorporando o papel de produtor de conhecimento.
“O ofício docente há algum tempo vive uma situação de empobrecimento. Professores e professoras são estimulados, cada vez mais, a serem meros reprodutores de conteúdos escolares, pensados com a função de treinarem as crianças e jovens para que sejam bem sucedidos nas dezenas de avaliações, também inventadas alhures. Isso se expressa claramente nas condições de trabalho as quais esses profissionais estão submetidos. O tempo docente remunerado se restringe a dar aulas. Isso resulta na perda de uma dimensão muito importante desse ofício que é a dimensão intelectual. No entanto, nós da equipe do Nepso, IPM e Ação Educativa sabemos e queremos que todos acreditem que muitas educadoras e educadores realizam experiências muito significativas e maravilhosas em sala de aula. Esse trabalho permanece subterrâneo, se perde no tempo, sem memória”, destaca.
Ao trazer a experiência do seu projeto no Polo Rio Grande do Sul, Adriana Cardoso, que desenvolveu um proposta com o 3º ano do Ensino Médio, cujo tema é “O lugar das tarefas de casa no cotidiano dos alunos, repensando as práticas pedagógicas”, apontou como principal desafio a escrita dos diários no decorrer da pesquisa. “No início tínhamos alguma dificuldade de praticar a escrita livre, no momento em que os processos estão ocorrendo. Porém, no final de toda a construção percebemos o quão benéfico foi para a produção do artigo que está na publicação, do qual muito nos orgulhamos. O registro viabilizou a reflexão sobre a nossa prática, análise das etapas e um enorme aprendizagem”, afirma.
Outro destaque apontado por Adriana foi a possibilidade dar continuidade a novos projetos com diferentes ciclos, já que outras colegas de polo sistematizaram suas experiências em outras modalidades.
Para conferir as demais experiências basta acessar o site do Nepso, na seção de publicações, e fazer o download das obras, disponibilizadas no formato e-book.
Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião, 13 anos
O Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião (Nepso) é um programa realizado com escolas públicas de ensino fundamental e médio, fruto de uma parceria entre a Ação Educativa e o Instituto Paulo Montenegro. Com o objetivo de estimular e orientar projetos de pesquisas educativas de opinião, envolvendo alunos e docentes, a ideia está baseada no alto valor pedagógico da pesquisa de opinião, capaz de criar projetos de caráter interdisciplinar e oportunidades para a escola pesquisar e conhecer aspectos importantes da sua realidade e do seu entorno.
O coordenador da unidade de Educação, Relações Internacionais e Desenvolvimento e um dos idealizadores do programa, Sergio Haddad, chamou a atenção para longevidade de uma iniciativa que chega ao seu 13º ano, viabilizada pela parceria entre um Instituto Empresarial e uma Organização Não Governamental. “O Nepso é o projeto com maior duração da Ação Educativa, me lembro da sua concepção, quando pensamos na parceria entre a Ação Educativa e o Instituto Paulo Montenegro que também estava sendo estruturado pelo Ibope. E certamente, este lançamento é uma demonstração de que quando há junção de esforços e de distintas expertises para refletir e pensar a escola é possível produzir conhecimento a partir da perspectiva do atores sociais”, comenta.
No Brasil, o programa está disseminado em oito estados-polo: São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Distrito Federal, Paraná e Bahia. Em 2004, iniciou-se a disseminação da experiência em países da América Latina e Europa, sendo eles: Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Portugal.
Ana Lúcia Lima, diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro, evidencia a dinâmica de organização do trabalho e a coerência da proposta como fundamentais para consolidação do programa Nepso. “Observem a dimensão do nosso programa, a diversidade territorial, de modalidades abordadas, o Nepso é um panorama espetacular do que é a educação no Brasil, com seus milhões de desafios, mas também com suas milhões de conquistas e avanços. Ser parte disso, certamente é um privilégio. Construímos um jeito de trabalhar diferenciado, não só por conta da longevidade, mas também em função da coerência. A parceria com os coordenadores de polo faz grande parte desse sucesso, porque a gente dá o pontapé, mas cada um repensa, remolda, adapta para o seu contexto. E nada disso funciona sem os educadores e os estudantes. Almejamos ser referência e inspiração para nós, para outros polos do Nepso e para fora, para aqueles que ainda veem a escola pública com pé atrás”, conclui.
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