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Objetivamente, jamais poderemos dar precisão para este desfecho, mas por sua trajetória podemos encontrar um sentido para sua obra. Por meio dela, emergem características importantes de uma vida na metrópole, vista e vivida por um sujeito oriundo da sua margem: Jardim Eliana (Grajaú – Zona Sul), na periferia da cidade, lugar onde cresceu. O graffiti surgiu para ele como instrumento de construção de um caminho para outras paragens, lugares distantes e cheios de barreiras, por onde seus amigos de bairro não se imaginavam antes dele. Niggaz ultrapassou obstáculos reais e simbólicos que levavam até o mundo da arte, e seus parceiros encontraram percursos possíveis com este estímulo.
O Niggaz, por sua vez, não registrou a dor dos outros como foco de sua expressão, mas a própria, maquiada numa ficção. Recriou o mundo para ele fazer sentido, diminuindo o absurdo da existência para um jovem de periferia com um talento descomunal. A sua inadequação é para nós um índice de como se acolhe um jovem da periferia numa realidade distinta da sua origem.
Uma das principais características de Niggaz era ser romântico, amante do afeto, sempre disposto a dedicá-lo e carente em recebê-lo. As experiências sentimentais intensas sempre povoaram sua trajetória, recorrentemente aparecia com o desenho de uma mulher pela qual se apaixonara e os amigos apaixonavam-se por derivação, através de seu trabalho. A mulher ao seu lado na nave do painel do “Beco” é o elemento que lhe dava estímulos para transpor as distâncias, que o acompanhava na viagem e lhe fornecia o afeto e a compreensão para diminuir as turbulências de sua vida, foi ela também que lhe trouxe uma das suas maiores desilusões.
Contudo, Niggaz é pioneiro, foi o primeiro grafiteiro que chegou à Vila Madalena vindo de uma origem social mais baixa, também o primeiro que fez estes grafiteiros de classe média circularem pela periferia. Quando então, além de reconhecerem as distâncias que ele ultrapassara, passaram a valorizar a sua disposição em transpô-las.
(extraído do texto de Sergio Franco para o catálogo da exposição comemorativa do Dia do Graffiti).
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Editoriais
Editorial: Niggaz, as distâncias intransponíveis
Por Sérgio Franco, mestre em urbanismo pela FAU-USP
Alexandre Luis da Hora Silva, Niggaz, faleceu aos 21 anos, em 29 de abril de 2003, nas águas da Represa Billings, antes disso deixou uma obra que marcou o seu tempo, o que havia de vida nele permanece entre nós. Para nós que não entendemos o que se passou para haver este destino trágico, fica a pergunta: como um jovem dotado de tais poderes mágicos de criatividade pode ter encontrado morte prematura?
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