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Pretas no Corre: revista feita por jovens negras ativistas celebra protagonismo e resistência no Novembro Negro

Produzida por jovens ativistas da iniciativa multiatores MUDE com Elas, a publicação coletiva reúne textos, imagens e reflexões sobre o corre cotidiano, o trabalho e as potências das juventudes negras nas periferias

O Novembro Negro ganha mais uma produção potente e necessária: a revista “Pretas no Corre”, fruto do MUDE com Elas, desenvolvido pela Ação Educativa, CEERT e Terre Des Hommes. A publicação é resultado de um processo coletivo de formação política, criação cultural e comunicação comunitária, conduzido por jovens mulheres negras e periféricas que decidiram transformar suas vivências em narrativa, memória e crítica social.

Mais do que uma revista, “Pretas no Corre” é um documento político e pedagógico que reafirma o lugar das mulheres negras como produtoras de conhecimento. O título sintetiza a urgência, a sobrecarga e a agência que atravessam suas trajetórias – o corre que é trabalho, sobrevivência e criação. Cada página carrega o compromisso de visibilizar saberes e experiências que, muitas vezes, permanecem invisíveis nas grandes narrativas.

“A produção deste material pelas próprias jovens ativistas é, por si só, um ato político e transformador. Ao tomarem a palavra e produzirem conhecimento a partir de suas vivências, elas reafirmam o lugar das juventudes, especialmente das jovens negras, como sujeitas de voz, ação e reflexão”, destaca Fernanda Nascimento, coordenadora do projeto Mude com Elas. “Este material não apenas expressa suas demandas, mas também traduz suas perspectivas, linguagens e formas de resistência.”

A elaboração da revista foi conduzida pelas jovens Brendaly Matos, Maria Eduarda Pimentel e Amanda Santos, em parceria com a equipe da Viração Educomunicação. As oficinas de escrita, design e comunicação resultaram em um material diverso e autoral, que reúne entrevistas, poesias, relatos e indicações culturais – todos voltados ao fortalecimento de epistemologias negras e ao reconhecimento das mulheres como criadoras de cultura e pensamento.

“Nós queríamos que a revista chegasse às pessoas, principalmente às meninas pretas, e que elas pudessem se enxergar naquilo que estivessem lendo”, explica Maria Eduarda Pimentel, uma das idealizadoras da publicação. “Incluímos também um teste interativo para que quem estiver lendo possa refletir sobre seus sonhos, seus caminhos e o que deseja construir.” 

Para Maria Eduarda, a revista tem grande importância não apenas para a formação das jovens ativistas, mas também para quem vai ter acesso ao material. “Queremos que as pessoas se vejam ali, que se reconheçam no trabalho e na correria de outras mulheres. É muito significativo quando encontramos um material que dialoga com as nossas vivências, que fala sobre nós”, afirma. 

Segundo ela, esse é o principal objetivo da publicação: “Desejamos que jovens e adolescentes das quebradas possam pegar a revista e se enxergar um pouco naquele conteúdo. A linguagem é simples e acessível, o visual é colorido e as ilustrações foram feitas por uma colega nossa, também artista preta. Tudo foi pensado para criar identificação e pertencimento.”

Os conteúdos da “Pretas no Corre” também abordam as desigualdades estruturais que marcam o mercado de trabalho para jovens mulheres negras. Segundo dados do IBGE e levantamentos do próprio projeto, elas estão entre as maiores taxas de desemprego e informalidade, além de enfrentarem sobrecarga doméstica e ocuparem majoritariamente os trabalhos de cuidado.

“Quando jovens mulheres negras produzem suas próprias narrativas, elas desconstroem estereótipos e propõem novas formas de existir e pensar o mundo”, afirma Fernanda Nascimento, reforçando a importância da publicação no contexto do Novembro Negro. “É uma revista que celebra a resistência, mas também reivindica dignidade, oportunidades e o direito de sonhar.”

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