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Agenda da Periferia: fortalece a representatividade e visibiliza a cena cultural da periferia

A relação que Agenda da Periferia desenvolveu, ao longo desses nove anos, com os projetos e iniciativas culturais foi muito além da divulgação das informações básicas: data, endereço e horário. A dinâmica do projeto da Ação Educativa com os indivíduos, coletivos e comunidades da periferia de São Paulo e da sua região metropolitana funcionou como um espaço efervescente capaz de fortalecer e visibilizar novos protagonistas nas margens das cidades, possibilitando a reafirmação da intensidade de ecoar as vozes das ruas.

“Eu não sei se quem faz a Agenda tem essa noção, mas o trabalho que ela fez foi essencial para tirar o preconceito do que acontece na periferia. Muita gente ainda tem preconceito com atividades culturais na periferia, a revista ajuda a vencer isso”, comenta Reinan, do Maria Cursi. “Por muito tempo ela foi o nosso principal material de trabalho. A gente pegava a versão impressa, saia distribuindo e provava para as pessoas que o que a gente fazia era sério”.

Para Chapinha, um dos criadores do Samba da Vela, a importância vai além de ser o “principal mecanismo de comunicação” das periferias. “A visibilidade que a Agenda deu para as iniciativas culturais cumpriu um papel mais importante do que divulgar os eventos, ajudou na representatividade, no reconhecimento e na valorização. A partir daí, outras quebradas tiveram vontade de criar suas próprias atividades”, observa.

Dialogando com a visão do Chapinha, o escritor Sacolinha, da Associação Literatura no Brasil de Suzano, afirma que a Agenda entendeu que os coletivos precisavam mais do que uma ferramenta para atrair público, mas também “mostrar o que estavam fazendo, que estavam na ativa, à disposição para trocas e novas experiências. E a Agenda de Periferia tem feito isso, algo que os tradicionais “guias” nunca fizeram e nunca tiveram a intenção de fazer”.

 

Primavera da periferia

Apesar de ainda existir resistência e preconceito – “para muita gente cultura é só Antônio Fagundes no Teatro Municipal”, ironiza Chapinha – a multiplicação dos saraus, o crescimento da cena do hip hop, do teatro, a resistência do samba e a inventividade das diversas cenas tem chamado a atenção e recebido cada vez mais destaque.

Cris, do Amigos do Samba.com, atribui o surgimento desse novo cenário a conquista de espaço e a capacidade de superação dos atores periféricos: “Os movimentos vêm ganhando força e vêm aumentando, com trabalhos de maior conscientização, novos artistas foram descobertos na periferia. Atribuo esse crescimento também à Agenda da Periferia. Porque as pessoas visualizam eventos na Agenda, vão conhecer e acabam se identificando”, avalia.

Tiele Queen, do Hip Hop Mulher, celebra a riqueza e a diversidade das expressões periféricas, as quais não se limitam a uma só linguagem, tendo como marca a abertura para novos artistas e uma pegada, muitas vezes, influenciada pela política. “A periferia não se limita a fazer samba ou rap, toda hora surge um coletivo novo de teatro, um sarau, um grupo de dança. Quando organizamos a semana do Hip Hop, ficamos impressionados com a quantidade de grupos… Muito funk tem revelado uma influência política”, comenta.

 

Circulação

Os nove anos de existência da Agenda da Periferia trazem números que impressionam: mais de 50 mil artistas passaram pelas páginas da revista, já foram distribuídos mais de 1 milhão de exemplares e ¼ dos moradores da cidade já tiveram contato com ela. No final de 2014, a Agenda da Periferia estreou sua versão online, onde reproduz todo o conteúdo da versão impressa e também produz matérias mais detalhadas com os destaques de cada mês.

A capacidade de veiculação da revista, combinada com o poder de divulgação da internet, tem funcionado bem, explicam os entrevistados e as entrevistadas. Conforme relembrou o escritor Sacolinha, “mas é necessário repensar na distribuição, para que a Agenda não cumpra somente o papel de registro, mas também o de divulgar”.

Porém, todos os entrevistados torcem para uma ampliação das páginas e da tiragem e que realizem matérias e entrevistas para que haja mais complexidade e edições nas mãos dos artistas, nas comunidades, nas escolas…

 

*Por Paulo Pastor Monteiro – Jornalista responsável pelo site Agenda Cultural da Periferia

Fonte: Agenda Cultural da Periferia

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