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Autonomia se descobre fazendo: jovens discutem autonomismo e ação direta no primeiro dia do ciclo OcupAção

Em parceria com jovens engajados no movimentos secundarista e com o Comitê de Mães e Pais em Luta, a Ação Educativa promoveu a primeira oficina do ciclo OcupAção: Jovens em Movimento, que abordou autonomismo e ação direta. Como provocadores e disparadores dessa primeira oficina, a Ação Educativa recebeu Andreza Delgado, estudante de direito, apoiadora do movimento secundarista e militante abolicionista penal, e Jean Tible, militante e professor no curso de Ciência Política da USP.  O debate contou com a presença de secundaristas, ex-secundaristas, professores/as da rede pública, pesquisadores/as e militantes do movimento negro, feminista e LGBT.

Por Alexandre Suenaga*

“A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”. Citando Marx, Jean Tible começou sua fala colocando em questão o conceito de autonomia. Para isso, apresentou um panorama da história política mundial, exemplificando grupos que lutam pelos direitos sobre o próprio corpo, como no movimento feminista, e sobre o espaço, como o movimento zapatista no México. Jean também trouxe medidas de ação direta, ao mesmo tempo em que questionou quais são exatamente as práticas de autonomia que necessitamos investir diante de um cenário de constantes perdas de direitos. Em sua fala, também foi possível problematizar as relações das práticas políticas autônomas com a construção de uma democracia real e participativa.

Andreza Delgado trouxe para o debate a necessidade de evidenciar as práticas autônomas que foram silenciadas durante a história do Brasil, em especial dentro do movimento negro. Umas das jovens, em concordância, aponta a falta das narrativas de experiências autônomas em nosso país, o que impede o avanço da discussão. Andreza também problematizou as medidas adotadas pelos movimentos sociais que apostam no poder jurídico e na criminalização dos indivíduos: “Qual o limite de apostar, dentro da luta política, em ferramentas estatais? Até que ponto a criminalização como ferramenta de luta não pode voltar-se contra a população pobre e negra?”. Em contraposição a estas medidas, sobrelevou a importância de organizações alternativas ao Estado como as associações de favelas, os grupos de bairro e os meios de comunicação alternativos.

A partir das provocações propostas pelos dois convidados, os jovens puderam discutir os desafios e contradições que enfrentam dentro do próprio movimento dos estudantes em luta. Como lidar com a reprodução de ideologias que impedem a construção de autonomia dentro do movimento? Como criar um debate inclusivo, que respeite o tempo e a história de cada sujeito ou comunidade? Outros pontos levantados pelos jovens foram a heterogeneidade de experiências de ocupações e a singularidade dos contextos de luta de cada região. “O comando do movimento secundarista não chegava nas periferias”, observa uma das jovens.  Este momento de encontro e elaboração demonstrou que a busca por autonomia exige luta, trabalho e diálogo.

 

Andreza Delgado e Jean Tible

“Autonomia é a constituição do comum”, enfatizou Jean Tible. Este é o desafio do ciclo OcupAção: propor não só a formação, mas abrir um espaço de encontro para os jovens secundaristas, ex-secundaristas e apoiadores exercerem o “nós por nós”. A ocupação não é só uma ação direta, mas um estado de consciência que toma o sujeito que se apodera de seu corpo e cria um espaço comum de convivência, de troca e de luta.

Os temas futuros do OcupAção foram construídos conjuntamente com os jovens e surgiram da necessidade de discutir as experiências de ocupações das escolas públicas que ocorreram em 2015 e 2016.  Além disso, o OcupAção busca apontar caminhos para compreender a luta pelo direito à educação em um cenário cada vez mais desafiador.

O próximo encontro do ciclo será no dia 8 de abril, das 14h às 18h, e trará como tema os cenários da educação em disputa. O objetivo da oficina é mapear e compreender quais atores sociais disputam os sentidos dentro do campo da educação. As inscrições estarão abertas em breve.

*Alexandre Suenaga é mestre em Ciências da Comunicação pela USP, onde realizou uma pesquisa-intervenção com jovens de escola pública, investigando suas relações com o mundo do trabalho. Atua e milita dentro dos campos da Comunicação e da Educação, com foco no trabalho com jovens e organizações da sociedade civil.

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