Notícias
Compartilhar

Bar do Zé Batidão e Espaço Clariô: jovens monitores conhecem espaços de referência cultural na periferia

O Bar do Zé Batidão já é referência na cena cultural paulistana. Localizado na Zona Sul de São Paulo, o boteco é um espaço de efervescência cultural periférica. Os jovens monitores culturais do CCJ – Centro Cultural da Juventude visitaram o espaço e, em um bate-papo com Zé, puderam conhecer um pouco da história do lugar, das atividades culturais e, saborear, no almoço, pratos tradicionais do Batidão.

Durante a conversa, Zé contou como o espaço se tornou uma das referências para a cultura de periferia, fortalecendo e acolhendo diversos projetos desenvolvidos na região. O mais famoso deles é o Sarau da Cooperifa, comandado por Sérgio Vaz, que ocorre às quartas-feiras reunindo artistas em torno da poesia.

Zé conta que o sarau começou há cerca de 13 anos, bem pequeno, com menos de dez pessoas. Com o tempo foi crescendo, sendo divulgado e hoje a casa lota todas as noites de quarta, recebendo inclusive visitantes internacionais. “Por que deu certo a Cooperifa? Porque é um trabalho que não visa lucro. É por amor que se faz. Ninguém ganha nada”, diz. Para Zé, o encontro é acolhedor, lugar onde as pessoas criaram vínculos. “Aqui nós nos tornamos uma família”, sorri.

As atividades culturais no bar não param no Sarau. Às terças-feiras tem samba e o Cinema na Laje ocorre quinzenalmente, às segundas-feiras, com exibição gratuita de curtas-metragens. Já o cardápio do bar é tão famoso quanto as atividades culturais que lá acontecem. O prato servido no Cinema na Laje, por exemplo, é o “costelaje”, costelinha para os apreciadores das narrativas audiovisuais.

A trajetória pessoal de Zé coincide com a história de muitos moradores da periferia paulistana. Nascido em Minas Gerais, veio para São Paulo com 18 anos, após trabalhar de graça por muito tempo em uma fazenda.

Na capital paulista, foi servente de pedreiro, trabalhou em padaria, foi garçom em grandes restaurantes, abriu uma cantina em uma escola, montou uma oficina de costura. Como garçom, serviu a seleção brasileira de Futebol na Copa do Mundo de 1970. Foi nesse ano que ganhou um autógrafo de Pelé em uma camiseta esportiva, hoje emoldurada e orgulhosamente exposta no seu bar.

Nos anos 1980, Zé comprou o local, que se tornou ao longo de 23 anos um importante espaço de sociabilidade da periferia. Como no início só fazia bebidas de “batida”, ficou conhecido como Zé Batidão.

Para Zé, se donos de bares do bairro tivessem iniciativas similares às suas, certamente se fortaleceria um circuito cultural da quebrada na região, como uma espécie de Vila Madalena. “Se todo mundo fizesse o que eu faço, o dinheiro ficaria aqui, na periferia”.

Espaço Clariô

No período da tarde, os jovens monitores culturais cruzaram a cidade, depois de um almoço típico no Bar do Zé Batidão, rumo à Taboão da Serra, para visitar o Espaço Clariô de Teatro. Lá, refletiram sobre temas como produção, consumo e difusão da cultura nas periferias.

Alguns dos integrantes do coletivo, como Naloana Lima, Will Damas e Alexandre Souza, o João, compartilharam suas trajetórias, a formação do grupo e a criação do espaço.

Consolidado como sede da companhia de teatro, o Espaço Clariô de Teatro também cumpre as vezes de espaço cultural. Como exemplo, tem recebido o Sarau do Binho todas às segundas-feiras e realizam o Quintasoito toda última quinta-feira do mês, encontro entre artistas e frequentadores. Nesse momento novos trabalhos são apresentados, tudo sempre acompanhado de uma tradicional e famosa sopa. “Nunca imaginamos que [o espaço] ia virar um polo cultural na cidade”, afirma Naloana.

De acordo com Naloana, a companhia alugou a casa, inicialmente, para guardar cenários e ensaiar. Com o tempo, eles apresentaram o espetáculo “Hospital da Gente”, que falava da vida de uma favela, já dentro da própria casa em 2005.

João, que já trabalhou como servente de pedreiro, eletricista e carpinteiro, foi um dos responsáveis em transformar aquele cenário, de um sobrado para uma favela. Segundo ele conta, a estética surgiu da necessidade, usando sucata e outros materiais para a montagem. “Todo esse conhecimento eu aplico na construção dos cenários”. De acordo com Will, João fez uma pesquisa aprofundada na favela para construir o cenário que, alinhada à sua experiência em construção civil, fez com que as pessoas, de fato, entrassem na história. “Ele fez de uma maneira tão real que as pessoas entravam aqui e perguntavam: ‘nossa, mas vocês dormem aonde?’”

Com o proprietário da casa muito favorável às ideias da companhia, aos poucos eles tiveram conquistas. O espetáculo se consolidou e começou a receber um público maior. “O espaço conta um pouco da trajetória do grupo”, afirma Naloana.

A atriz conta que os desafios de cenário são sempre complexos. No primeiro espetáculo, era a favela; no segundo, montaram uma ponte de ferro que demora seis horas para ficar pronta. Segundo Will, os trabalhos são difíceis de realizar, mas esse é o teatro que eles gostam de fazer. “É o nosso modo de produzir, de construir, de realizar”, afirma.

Para Will, o objetivo é fazer o trabalho da melhor maneira possível, com a melhor qualidade. Nesse sentido, João acredita que os parceiros do espaço têm muito a oferecer. E Will complementa que é um espaço do Grupo Clariô, mas sempre de portas abertas. “Temos toda a vontade de fazer com que esse espaço, que conquistamos e chamamos de nosso, seja nosso em um plural maior: da comunidade, da cidade, dos artistas em geral”, conta.

Os jovens puderam conhecer o local, os materiais utilizados para a cenografia, iluminação, sonoplastia, entre outros do universo teatral.

Comentários: