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Concepções e políticas públicas de juventude: eixo temático faz parte da formação teórica de Jovens Monitores/as Culturais

Questões como o Estatuto da Juventude, educação e trabalho e participação política foram abordadas durante os encontros

Como uma política pública de cultura voltada para a juventude, o Programa Jovem Monitor/a Cultural debate temas relacionados à própria juventude, seja no campo da atuação profissional, da formação, da participação e dos direitos específicos deste segmento.

Para abrir esse eixo temático da formação, a discussão realizada por Magi Freitas, coordenadora da área de Juventude da Ação Educativa, girou em torno do histórico e das concepções sobre o termo juventude.

Iniciando a reflexão, Magi propôs que os jovens presentes respondessem, em cartelas, a duas questões: que palavra vem à cabeça quando se fala em juventude? Quando a pessoa deixa de ser jovem? Abaixo, seguem algumas das respostas trazidas pelos jovens monitores/as culturais:

 

Tal dinâmica facilitou o ponto de partida das reflexões trazidas por Magi, na medida em que foi agrupando e analisando palavras e expressões semelhantes. Questões como a energia da juventude, o momento da descoberta, a transgressão, as oportunidades (e a falta delas), as possibilidades e as escolhas e a violação de direitos dessa juventude estiveram presentes como resposta à primeira pergunta.

Para a segunda questão, quando deixamos de ser jovem, as respostas foram inúmeras: parte dos jovens trouxeram o aspecto da maturidade, da responsabilidade e da estabilidade; outros falaram das questões legais – no Brasil, de acordo com a lei, a juventude termina aos 29 anos; alguns buscaram um viés mais simbólico e subjetivo: “quando deixa de acreditar”, “quando para de lutar pelos seus sonhos”; e também tiveram aqueles que falaram sob a perspectiva do viés político.

Prolongando este momento, ocorreu uma roda de conversa com os jovens em que foram colocados alguns pontos de vista sobre o assunto. A questão econômica que favorece alguns jovens em detrimento de outros, a forma diferente de ser jovem na cidade e no campo, entre outros temas, foram abordados.

 

Concepções de juventude, condição juvenil e políticas públicas

Segundo Magi, a juventude apresentada pelo Estatuto é considerada como uma fase do ciclo de vida localizada entre a infância (dependência) e a maturidade (autonomia). No entanto, a pesquisadora fala que essa ideia de uma vivência de juventude nem sempre foi dada dessa forma. “É uma construção social e histórica”, afirma Magi.

A condição de ser jovem está colocada em sociedades como a nossa, mas nem sempre foi assim, podendo ter inúmeros caminhos, conteúdos e definições. Magi falou do advento da sociedade moderna e da classificação da juventude pensada como um processo de transição da dependência para a independência, da tutela para a autonomia, como um período de preparo para o ingresso na vida social adulta. “Essa é uma visão ainda muito forte. Mas é preciso nos questionarmos se é isso que define a juventude hoje. Existe um percurso previamente estabelecido para essa transição ou são diferentes percursos? Será que existem marcas da juventude atual que a diferenciam de outras juventudes?”, pergunta.

Dados da Agenda Juventude Brasil, pesquisa da Secretaria Nacional de Juventude realizada em 2013, foram apresentados. A pesquisa traz informação sobre inserção no mundo do trabalho; desigualdades de gênero, raça, religião; problemas que mais preocupam a juventude; experiências de participação, entre outros.

Para Magi, é necessário debater a juventude contemporânea como mais complexa e alongada. Demora-se mais tempo hoje para deixar de ser jovem. Da mesma forma, os percursos das juventudes não são mais lineares, ou seja, não há um único caminho a se seguir.  “Conhecer, experimentar é necessário para escolher o trabalho. A dimensão da experimentação passa a ser fundamental”.

Vivendo a condição juvenil de formas muito distintas, em função de inúmeros aspectos, Magi aponta: “não dá pra pensar em uma única juventude, na necessidade dos jovens de forma genérica. Tem que ser pensado em termos de raça, gênero, classe social, região de moradia, experiência pessoal”.

Para ela, essas complexidades devem ser refletidas na formulação das políticas públicas de juventude, que vivem e já viveram paradigmas diferentes. Ela ressaltou que há uma disputa sobre a concepção de juventude na nossa sociedade e que tal disputa se concretiza nas políticas: a juventude já foi pensada como período preparatório, em que o foco das políticas era na educação. Também foi tratada como etapa problemática, cujo foco são as políticas compensatórias para segmentos vulneráveis.

Há aqueles que professam a juventude como ator estratégico do desenvolvimento, com foco na educação e na formação para o mundo do trabalho, e outros que tratam da juventude cidadã, juventude como sujeito de direitos, em que as políticas são centradas na noção de cidadania, articuladas intersetorialmente. “É preciso que as políticas reconheçam a juventude de uma forma mais articulada”, afirma Magi.

O Estatuto da Juventude contou com 10 anos de construção. Por meio do clamor por políticas públicas de juventude, em maio de 2003 é instalada a Comissão Especial destinada a acompanhar e estudar propostas de Políticas Públicas para a Juventude. A 1ª Conferência Nacional de Juventude acontece em 2008 e define como prioridade a aprovação de um marco legal para as políticas de juventude. Em 2010, é aprovada a PEC da Juventude, que insere o termo “jovem” na Constituição.

Conheça o Estatuto aqui.

 

Juventude e Trabalho

Com a intenção de aprofundar a reflexão sobre os temas relacionados à juventude, foi realizada uma roda de conversa com Gabriel Di Pierro, assessor da Ação Educativa, e Léa Marques, do Grupo de Juventude da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Iniciando a reflexão em torno do tema trabalho, Fernando Lopes, assessor pedagógico do Programa Jovem Monitor/a Cultural, lançou algumas questões: o mundo do trabalho é amigável à juventude? É hostil? Como a terceirização tem um impacto no campo do trabalho? Quem tem experiência profissional (formal e informal)? Quem tem experiência profissional em mercado de trabalho?

Léa Marques iniciou sua fala pautando a nova configuração do mercado brasileiro, incorporando alguns elementos para pensar a inserção da juventude neste mercado, tais como: emprego doméstico, principal inserção ocupacional das mulheres jovens negras; jornada de trabalho, em que a maioria dos jovens não consegue conciliar estudo, trabalho e vida pessoal/familiar; saúde no trabalho, já que 40% dos acidentes de trabalho ocorrem com jovens; informalidade e participação no mercado de trabalho.

Dialogando com as discussões da parte da manhã, Léa abordou as políticas públicas de juventude através das conquistas da última década: a criação da Secretaria Nacional da Juventude (SNJ) e do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), as Conferências Nacionais de Juventude e o Estatuto da Juventude.

Gabriel citou as relações entre a juventude e o Programa Jovem Monitor/a Cultural, ressaltando o caráter de experimentação e de experiência profissional. Ele pontuou que o Programa Jovem Monitor/a Cultural é um momento, podendo ser o primeiro, segundo e terceiro passo para a inserção destes jovens no mercado de trabalho.

Gabriel ainda aproveitou para apresentar o projeto Tô no Rumo e falou sobre a posição da Ação Educativa a respeito do trabalho na área de Juventude: “A Ação Educativa entende que a escolha profissional é um direito do jovem e batalhamos para isso”. No final, ocorreu uma roda de conversa onde cada jovem expôs seus projetos profissionais e conversaram sobre os assuntos tratados em juventude.

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