Notícias
Compartilhar

Desabamento Wilton Paes de Almeida: retrato da negação do direito à moradia pelo Estado

A Plataforma de Direitos Humanos Dhesca Brasil manifesta solidariedade às famílias vítimas do incêndio e desabamento do edifício no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo (SP), nesta madrugada (01). Até o momento registra-se um óbito. Há outras famílias desaparecidas.

Ocupado por cerca de 90 famílias sem-teto (248 pessoas, no total, segundo bombeiros), em grande parte de nigerianos, o prédio Wilton Paes de Almeida possuía de 24 andares. O edifício era uma antiga sede da Polícia Federal desativada. O último uso do espaço foi a instalação de uma agência do INSS, há mais de 10 anos. As causas do fogo ainda não foram informadas. Outros dois prédios próximos também foram afetados pelo incêndio.

A ocupação, de acordo com movimentos de luta pela moradia, não estava ligada a nenhum dos movimentos sociais por moradia da capital paulista.

Incêndios em áreas populares, como o de janeiro deste ano na comunidade Caminho São Sebastião, em Santos, no litoral de São Paulo, são frequentes. Resultam tanto de instalações elétricas incorretas como são provocados criminosamente por grupos interessados na expulsão das famílias destes espaços.

Com déficit de 230 mil moradias (Dados 2016. Relatoria da ONU para Direito à Moradia), a cidade de São Paulo vive uma situação de emergência habitacional. O agravamento da crise, com a piora dos índices sociais e aumento do desemprego, tem acentuado o abandono do Estado a estas famílias. Expulsas da cidade pela especulação imobiliária, elas encontram nos espaços vazios das grandes cidades uma possibilidade de terem seu direito à moradia efetivado.

A Dhesca ainda manifesta total repúdio às declarações do governador Marcio França (PSB-SP) da existência de uma “indústria de ocupações” no centro da capital paulista. A declaração do governador caminha na lógica reversa de fazer dos ocupantes, sujeitos de direitos, os responsáveis pela tragédia da qual sofreram.

Aguardamos que as famílias sejam realocadas com segurança e que os direitos humanos sejam respeitados e que o incidente seja investigado. A Dhesca reafirma a necessidade de que o Estado brasileiro realize, com urgência, uma ampla reforma urbana no qual os direitos de moradia e à cidade se sobreponham a interesses do mercado imobiliário.

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Comentários: