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Editorial: A história do jovem Mauro que virou uma lenda de nome Sabotage

Sabotage alcançou o feito de realinhar tudo em sua volta com seu disco de estreia, e a brevidade da vida nos furtou de conhecer o segundo álbum deste artista.

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Ainda bem que tivemos a chance de testemunhar, mesmo que de passagem, o seu talento. Igual a ele as quebradas estão repletas de gente absurdamente capaz que infelizmente não teve a possibilidade de mostrar ou despertar sua grandiosidade. Esse é o maior genocídio de toda a humanidade, matar o talento de uma pessoa no berço. Como consequência, alguns estrangulam seus próprios sonhos na ânsia de concretizá-los. Outros sepultam seus dons com a pá pesada da miserável rotina que faz suco de gente. Passo a narrar a história de um indivíduo que tirou suco das engrenagens do espremedor. Por isso mesmo não foi poupado.
Quem diria? Aquele menino que viu a avenida brotar em seu quintal e se espraiar até engolir a favela em que nasceu sobreviveu! A pista indigesta leva ao menos simbolicamente seu nome. Pois à ingrata rua, construída com rios de dinheiro desviado, que deságua na colossal Ponte Estaiada, preferiram rebatizar em homenagem ao falecido dono da maior emissora de TV do país. Av. Roberto Marinho não é outra coisa se não sabotagem.
Em tempos de espetacularização do judiciário com julgamentos transmitidos ao vivo em cadeia de rádio e TV, o caso Sabotage foi inverso, o crime interrompeu o show.
Petulante como a declaração do governador: “Quem não reagiu está vivo”. Ou o deboche do repórter enquanto a favela arde em chamas ao vivo na tela: “Também essa gente se amontoa em barracos precários feitos com materiais inflamáveis”. Sabotage teria sido mais um responsabilizado pela própria morte, morô mano?
Polêmicas e imprecisões vão desde seu nascimento até sua morte. “Sabotage nasceu em 13 de abril”, afirmam matérias, fãs e até a lápide no túmulo do rapper, equivocadamente. O que atestam seu registro em cartório, os familiares e o próprio Sabotage no documentário de Rita Buzzar é: “(…) eu nasci no dia 3 de abril de 73”.
Mauro deixou de ser uma pessoa para se tornar um mito, uma entidade, uma marca que estampa camisetas, bonés, cobre paredes em grandes grafites, adesiva automóveis e caminhões que circulam nas mais remotas estradas do país. Sabotage é um estado de espírito que habita o coração e a cabeça das pessoas.
Este livro foi feito para circular como Sabotage caminhava, para entreter como Sabota sorria, para falar como Sabotage conversava com todos, sem distinção de raça, grau de instrução, classe ou religião.
Um livro construído com tinta, suor, sangue e lágrimas.
(Escrito por Toni C, editado a partir de trechos do capítulo Introdução do Livro Sabotage – Um bom lugar)
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