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Editorial: As Capulanas dão exemplo no acesso a financiamento público de cultura

O novo espetáculo da Capulanas CIA de Arte Negra, que estreou em setembro, é um convite a um universo místico cercado de histórias de dor, superação, amores verdadeiros e possibilidades de cura.

Sangomas, mulheres escolhidas espiritualmente por seus ancestrais para darem continuidade aos trabalhos de cura espiritual e física dentro da comunidade, é uma peça ambientada em uma casa onde os espectadores percorrem cada cômodo sentindo de perto o depoimento das seis personagens que ali vivem. A construção das personagens e suas histórias de vida foram compiladas a partir de atividades de formação realizadas pelo grupo em 2012. Temas como saúde cultural, física e psíquica de mulheres negras foram fundamentais para o desenvolvimento dos textos, criados em parceria com a escritora Cidinha da Silva.
Capulanas Arte Negra é um grupo formado em 2007 por quatro jovens artistas pretas interessadas em dialogar com a sociedade sobre as descobertas, anseios e percepções das mulheres negras e periféricas. No trabalho do grupo se faz presente a força da herança cultural da oralidade para a Diáspora africana. Os projetos artísticos deste grupo foram desenvolvidos através de projetos aprovados em diversos editais de fomento, fazendo das Capulanas um dos melhores exemplos do quanto é importante os grupos culturais acessarem este mecanismo de financiamento público à cultura. Vejam a trajetória delas.
Em 2008 foram contempladas com o programa VAI (Valorização de Iniciativas Culturais) para a montagem da peça “Solano Trindade e suas Negras Poesias”; no ano de 2009, pelo PROAC – Edital Inédito de Teatro da Secretaria de Estado da Cultura, e pelo Edital de Intercâmbio Cultural do MINC, por meio do qual ficaram em cartaz em Salvador-BA, no teatro Gamboa Nova.  Em maio de 2010, foram contempladas com a 16° Edição da Lei de Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo, com o Projeto “Pé no Quintal”.  Levaram o espetáculo “Solano Trindade e suas Negras Poesias” para diversos espaços-quintais-terreiros da cidade de São Paulo, totalizando 30 apresentações nas periferias. Este projeto foi concluído com a publicação do livro “ {EM} GOMA- Dos pés à cabeça, os quintais que sou” que registrou a intersecção entre os percursos que o grupo passou e a descoberta do teatro Negro. Por meio do Edital de passagens do MinC e a convite da atriz Lucrécia Paco, em 2012 o grupo foi para Moçambique. Lá realizaram o lançamento do livro Em Goma e ministraram workshops e palestras sobre a experiência do Projeto Pé no Quintal. Destaque para as discussões sobre as temáticas da pesquisa para a construção do processo criativo referente a saúde e a cura das mulheres negras intitulado ”Sangoma”.  Ainda em 2012, foram contempladas pela 2ª vez pelo edital da Lei de Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo, com o Projeto de pesquisa “Sangoma” e inauguraram a sede do grupo na periferia da zona sul: a “Goma Capulanas”, um espaço voltado para a formação e difusão da arte, educação e cultura negra.
Um novo espetáculo, uma sede para chamar de sua, assim as Capulanas vão cobrindo as periferias de arte e dando exemplo de como é possível manter um grupo artístico com apoio de políticas públicas. Não economizemos aplausos às Sangomas.
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