Esses cinco adolescentes hoje são adultos, todos próximos dos 40 anos. São os remanescentes do grupo dos 30 jovens que há 24 anos tiveram sua primeira experiência teatral com o espetáculo Os Tronconenses. Esse estranho termo identificava os moradores de Tronconé, um outro nome para o Brasil. Uma nomenclatura extraída da fala de uma japonesa que tentava explicar que Brasil vem de Pau Brasil, “um tronco, né?”. Desde então, eles nunca deixaram de ser tronconenses. Tronco duro de quebrar. Madeira que cupim não rói.
Este quinteto de atores está à frente de um dos projetos culturais mais antigos e importantes da periferia de São Paulo. Trata-se do Instituto Pombas Urbanas que desde 2004 tem sua sede no Bairro de Cidade Tiradentes, extremo leste da Capital. Antes de voltar para a periferia, passaram 15 anos sediados no Centro da Cidade atuando como companhia de teatro.
Em 2003, o Pombas Urbanas se constituiu como ONG, tornando-se um Instituto. Concorreram no primeiro edital da Lei de Fomento ao Teatro de São Paulo e foram contemplados. Um horizonte se abria: “vamos voltar para a periferia!”, decretaram. Durante uma capacitação que davam para a COHAB – em um conjunto habitacional na Zona Sul, receberam uma proposta do diretor de patrimônio daquele órgão municipal. “Vocês querem ocupar um galpão abandonado que fica na Cidade Tiradentes?”, perguntou Altemir Antonio de Almeida. Era a glória para o grupo. Já tinham o recurso da Lei de Fomento, agora tinham o espaço.
O galpão era enorme e muito bem localizado. Mas estava abandonado há 10 anos. “Não tinha teto, não tinha nada”. Mas com muito esforço, esmero e ajuda da comunidade, o velho galpão foi aos poucos ganhando uma nova roupagem e passou a chamar a atenção de todos.
Tornaram-se OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. Disputaram e foram contemplados em vários editais públicos, como o VAI – Valorização de Iniciativas Culturais da Prefeitura, e o PROAC – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo. Tornaram-se Ponto de Cultura pelo Ministério da Cultura e Casa Brasil pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Ampliaram a programação que se tornou mensal com cursos, mostras de filmes, além dos espetáculos de teatro.
O Pombas Urbanas hoje gozam de um amplo reconhecimento tanto social quanto artístico. A excelência e a proposição estética nunca ficaram em segundo plano na atuação engajada deste grupo que entre tantas iniciativas promove o Encontro de Teatro Jovem, cuja quinta edição acontecerá em setembro com amplitude latino-americana, uma vez que o evento é realizado pela Rede Latino Americana de Teatro em Comunidade que congrega 12 países. A trupe dos Tronconenses semeou asas e voou para outras paisagens, mas nunca deixou seu reduto periférico na Zona Leste de São Paulo. Um grupo que tem o Teatro como Pátria como sugere o lema do Encontro de Teatro Jovem Comunitário.
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Editorial: Pombas Urbanas semeiam asas na periferia paulistana e latino-americana
Marcelo, Paulo, Juliana, Marcos e Adriano eram adolescentes no ano de 1989. Todos moravam em São Miguel Paulista, tradicional bairro suburbano da Zona Leste de São Paulo. Faziam parte de um grupo de teatro. Junto com eles, outros 25 jovens compartilhavam o sonho de se tornarem atores. Simples assim. Ganhar a vida com Teatro? Não. Isso não fazia parte do imaginário dessa trupe. A ribalta tampouco lhes atraia. Esses jovens preferiam a rua ao palco. Mas não as alamedas e avenidas do Centro da Capital. Eles queriam os becos e vielas da periferia.
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