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Nota de apoio ao Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado de São Paulo

As organizações e movimentos sociais abaixo listadas, junto à Rede Liberdade, Instituto de Referência Negra Peregum, Laboratório de Políticas Públicas e Internet e Conectas Direitos Humanos expressam apoio público ao Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, em suas recentes declarações quanto ao programa Smart Sampa do Município de São Paulo. 

O programa municipal Smart Sampa, implementado no ano de 2024, conta com mais de 23 mil câmeras equipadas com tecnologia de  reconhecimento facial e representa a ausência de capacidade  do Município de São Paulo de combater adequadamente a violência local. No carnaval, pretende-se incluir ainda o monitoramento via Drones. O seu uso não garante resultados efetivos e estudos demonstram uma maior taxa de erro em relação ao  reconhecimento  de pessoas negras, de mulheres e de pessoas trans. 

A implementação de uma política pública que vulnerabiliza grupos já marginalizados desvirtua os princípios constitucionais de garantia de dignidade humana e perpetua lógicas racistas. O impacto sobre a democracia é direto, comprometendo direitos fundamentais como a liberdade de manifestação pacífica e o devido processo legal. Sob um regime de vigilância constante, justificado pela espetacularização do punitivismo, essas medidas violam os deveres do Estado na proteção de direitos humanos, com o aval do prefeito Ricardo Nunes.

A administração pública implementou o programa Smart Sampa como uma resposta fácil ao problema complexo da segurança pública. E desde a contratação do consórcio até a execução do programa, tudo foi feito sem transparência, sem responsabilidade com a população da cidade de São Paulo e sem diálogo com a sociedade civil. Como órgão responsável por garantir o gozo dos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988 e na Lei Complementar 80/94, o Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado de São Paulo  encaminhou ofício à Prefeitura de São Paulo, alertando sobre os riscos de perfilamento racial e de gênero e de violação à liberdade de associação e reunião no uso da tecnologia de reconhecimento facial e identificação remota de indivíduos em meio a blocos de carnaval.

A atuação do Núcleo é coerente com posicionamentos anteriores do órgão. Desde 2022, pelo menos, tem atuado, muitas vezes em parceria com a sociedade civil e instituições acadêmicas, contra o uso de tecnologias, demandando transparência e controle social, mitigação de riscos de racismo algorítmico de empresas públicas e da própria prefeitura. Há em curso, desde 2023, ações que questionam, inclusive, o próprio programa Smart Sampa. 

Destaca-se a atuação do NCDH, de forma extremamente comprometida com seu dever funcional e com a sociedade civil, viabilizando o acesso à justiça para as populações vulnerabilizadas pela violência estatal, a qual foi reconhecida, inclusive no âmbito do Prêmio Innovare 2024.  

Às defensorias, como a qualquer integrante do Sistema de Justiça, é reservada a autonomia funcional para que possam desempenhar suas funções sem interferência de interesses corporativos ou arranjos institucionais. Não cabe ao poder público qualquer censura à atuação aguerrida na defesa dos direitos humanos. Espera-se da administração superior da Defensoria Pública do Estado respaldar a atuação em defesa de direitos e jamais estabelecer juízo de valor ou limitação à honrosa atividade. 

A construção de prerrogativas e a independência funcional é uma conquista da carreira das defensorias públicas e de toda sociedade civil. 

Destaca-se que em janeiro de 2025, a Relatora de Defensores e Defensoras de Direitos Humanos das Nações Unidas publicou relatório de visita realizada ao Brasil e recomendou – expressamente ao Estado de São Paulo – “abster-se da criminalização de defensores de direitos humanos – não apenas em relação à abertura de investigações criminais e processos judiciais, mas à fusão de defensores de direitos humanos com criminosos no discurso público – em particular aqueles que fazem parte de movimentos sociais e apoiam os mais vulneráveis da sociedade”.

A ilegalidade não está no pedido de informações e de garantia de direitos à população, mas sim na contraofensiva da administração pública e do parlamento, que reduz o debate a uma visão maniqueísta,  sugerindo quem estaria ou não ao lado da população, fragilizando assim os pilares do Estado Democrático de Direito.

O requerimento repudia as ameaças dirigidas ao Núcleo de Cidadania Direitos Humanos da Defensoria Pública e às suas integrantes e endereça à administração superior da Defensoria Pública do Estado providências para a garantia à autonomia funcional e o fortalecimento da atividade de proteção dos direitos humanos.

Reforça ainda o compromisso constitucional deste órgão de proteção e defesa de direitos, devendo ser garantido, pela administração pública do Município de São Paulo e das Casas Legislativas,  a defesa dos direitos e o comprometimento com os princípios democráticos. Qualquer narrativa contrária ao exercício de seus deveres constitucionais deve ser interpretada como esquiva de suas responsabilidades enquanto gestor da maior cidade da América Latina. 

 

São Paulo, 27 de fevereiro de 2025.

 

Rede Liberdade

 

Instituto de Referência Negra Peregum 

 

Laboratório de Políticas Públicas e Internet

 

Conectas Direitos Humanos

 

Entidades apoiadoras:

 

Idec – Instituto de Defesa de Consumidores

Plataforma JUSTA

ARTIGO 19 Brasil e América do Sul

Aqualtune Lab – Cruzando o Atlântico

CDHEP – Centro de Direitos Humanos e Educação Popular do Campo Limpo

Pimentalab – Laboratório de Tecnologia, Política e Conhecimento, Unifesp

IPJ – Instituto Paulista de Juventude

Vereadora Keit Lima – Mandata das Favelas

Bancada Feminista do PSOL

Campanha TireMeuRostoDaSuaMira

Iniciativa Direito a Memória e Justiça Racial

Complexos – Advocacy de Favelas

IBDU – Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico 

ITTC – Instituto Terra, Trabalho e Cidadania

DiraCom – Direito à Comunicação e Democracia 

LADIH – Laboratório de Direitos Humanos da UFRJ

Desvelar – Justiça Racial, IA e tecnologias digitais

Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio 

Justiça Global 

Reduc – Rede Brasileira de Redução de Danos e Direitos Humanos

CESeC – Centro de Estudos de Segurança e Cidadania 

Vereadora Luana Alves 

Deputada Estadual Monica Seixas do Movimento pretas

Deputada Federal Sâmia Bomfim

Deputado Estadual Eduardo Suplicy 

Plataforma Brasileira de Política de Drogas – PBPD

Amanda Paschoal, Vereadora em São Paulo 

Erika Hilton, Deputada Federal

Travas da Sul Rede Sociocultural

Fórum da Cidade de São Paulo em Defesa da População em Situação de Rua

AMPARAR – Associação de Familiares e Amigos/as de Presos e Presas e Internos/as da Fundação Casa

Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife – IP.rec

Instituto Telecom

Fórum em Defesa da Vida

Frente Estadual pelo Desencarceramento de São Paulo – FEDSP 

Coletivo Digital

Instituto NUPEF

Instituto Sumaúma

Deputada Federal Luciene Cavalcante (PSOL)

Deputado Estadual Carlos Giannazi (PSOL)  

Vereador Celso Giannazi (PSOL) 

Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos

Maitá – Assessoria Técnica em Habitação de Interesse Social (Maitá ATHIS)

GELEDÈS-Instituto da Mulher Negra

Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama (CDHLG-FDUSP)

Electronic Frontier Foundation (EFF)

Transparência Brasil

Uneafro Brasil 

Luta Popular

Associação Amigos do Jardim Ipanema 

Associação Quinta dos Carvalhos

Cultive – Associação de Cannabis e Saúde

Associação Brasileira de Juristas pela Democracia- Núcleo SP

Deputada Estadual Ediane Maria (PSOL)

Rede Reforma – Rede Jurídica pela Reforma da Política de Drogas

Movimento Nacional da População em Situação de Rua

Cordão da Mentira 

Movimento de Familiares das Vítimas do Massacre em Paraisópolis 

Fórum Justiça

Mães em Luto da  Zona Leste de São Paulo

Comissão de Política Criminal e Penitenciária da 125ª Subseção da OAB São Paulo

Cedeca Sapopemba

Centro de Direitos Humanos de Sapopemba

Mães de Luto da Zona Leste

Mães de Maio

Mães de Paraisópolis

Ação Educativa – Assessoria, Pesquisa e Informação

Iniciativa Negra Por Uma Nova Política Sobre Drogas

Fórum Popular de Segurança Pública e Política de Drogas do Estado de São Paulo

Instituto Resgata Cidadão

Núcleo Memórias Carandiru

Movimento Negro Unificado

Vereador Professor Toninho Vespoli – Líder da bancada do PSOL na Câmara Municipal de São Paulo

Deputado Estadual Luiz Claudio Marcolino

Instituto Base 2

Instituto Abare – Fomento a Autogestão Popular

Abong – Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais

Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura

Movimento Mães da Leste

Coletivo Tem Sentimento

Instituto de Referência em Internet e Sociedade

Data Privacy Brasil

Deputado Guilherme Cortez

Open Knowledge Brasil

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