A Plataforma de Direitos Humanos – Dhesca Brasil e Ação Educativa manifestam sua profunda indignação e repúdio contra a política de extermínio do governo do Estado do Rio de Janeiro e o recente massacre ocorrido no dia 28 de outubro de 2025. Essa chacina, que até o fechamento desta nota contabilizou 132 mortes, se soma a uma rotina de violência institucional e letalidade policial que atinge de forma desproporcional as populações periféricas e negras. Este evento não é um incidente isolado, mas a manifestação mais aguda do terror de Estado que inviabiliza a cidadania e o direito à vida de milhares de pessoas no país.
O país assiste, mais uma vez, à lógica perversa do Estado que transforma territórios de vida em campos de extermínio sob a falsa justificativa de “guerra às drogas”. Essa narrativa, historicamente utilizada, serve para mascarar o extermínio deliberado de uma parcela da população. A violência estatal no Rio de Janeiro é contínua e diária. Os dados do nosso relatório “Missão letalidade policial e impacto nas infâncias negras na Bahia e no Rio de Janeiro” confirmam a seletividade e a brutalidade desta política. Em 2023, a letalidade policial vitimou 6.393 pessoas no Brasil. Destas, mais de 70% (71,7%) eram jovens com idade entre 12 e 29 anos, e 82% das vítimas eram pessoas negras. No contexto específico do Rio de Janeiro, o relatório aponta que, somente em 2023, pelo menos 23 crianças e adolescentes foram baleados em ações ou operações policiais, resultando em 10 mortes.
O que se observa é o extermínio sistemático da população negra, tratada como inimiga e descartável. A vida, a dignidade e o futuro de crianças, jovens e suas famílias são sacrificados em um altar de interesses políticos e econômicos. É imperativo denunciar e intervir no projeto político que determina que essa violência persista. Quando agentes públicos legitimam abertamente a violência como método de gestão da segurança, eles reforçam o ciclo de impunidade e morte.
Esta é a dura realidade que precisa ser encarada: a segurança pública tem sido instrumentalizada para fins políticos, e o custo dessa estratégia é medido em vidas humanas.
Diversas populações no Brasil estão submetidas ao mesmo perfil de violência promovido pelo Estado, marcada pela letalidade policial, pelo racismo estrutural e pela negação de direitos, como são também as violência contra população indígena que vivem em áreas periféricas. Essa dispersão e a vida em contextos urbanos e periféricos as expõem diretamente à violência policial e à ausência de políticas públicas específicas, tornando-as duplamente vulneráveis no cenário de conflito e letalidade.
A Plataforma Dhesca Brasil reitera a necessidade urgente de uma reforma na segurança pública que vá além das soluções paliativas. A discussão e aprovação de Propostas de Emenda à Constituição (PEC) que visam aprimorar o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e promover a integração e o controle das forças policiais, como as que tramitam no Congresso Nacional, são cruciais. No entanto, qualquer avanço legislativo deve estar intrinsecamente ligado à desmilitarização das polícias e à adoção de políticas que priorizem a vida e os direitos humanos, com o devido espaço de participação social e amplo debate público.
O direito à vida é inegociável! A Plataforma Dhesca Brasil conclama a sociedade civil, os órgãos de controle e aos organismos internacionais a se unirem na denúncia, apuração e exigência de responsabilização imediata dos envolvidos nesta chacina. Não haverá democracia plena no Brasil enquanto a vida racializada for tratada como descartável.