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Encerramento do Mês da Consciência Negra ocupa o centro de São Paulo com resistência e celebração

Texto: Paulo Monteiro

Foto: Maicon Douglas

No sábado (23/11), o bairro da Vila Buarque foi palco de uma ocupação cultural vibrante que marcou o encerramento das atividades do Mês da Consciência Negra e também integrou as comemorações dos 30 anos da Ação Educativa. Organizado pela Ação Educativa, em parceria com a Abong, o Instituto Polis, Koinonia e Núcleo Antirracista Virginia Bicudo da Fespsp, o evento trouxe o tema “Nós somos o começo, o meio e o começo”, inspirado nas reflexões de Mestre Antônio Bispo dos Santos, para exaltar a presença negra e debater os desafios contemporâneos da luta antirracista.

Juliane Cintra, coordenadora de Projetos Especiais e uma das curadoras da programação, destacou a importância histórica e simbólica de ocupar o centro da cidade. “Falar sobre o Festival Novembro Negro é falar sobre um sonho. Estar aqui no centro é muito importante para nós. Historicamente, o movimento negro usa o centro como espaço de troca, de articulação. O hip-hop, por exemplo, nasceu dessas trocas no centro. Isso é parte da história do povo preto brasileiro e do povo preto de São Paulo.”

Para Vinícius Rodrigues, do Núcleo Antirracista Virginia Leone Bicudo da FESP, o ato de ocupar o centro reafirma a herança cultural negra nesse território. “Sabemos que o centro sempre foi ocupado pela população negra, mas a gentrificação afastou e tentou apagar a história desse grupo. Realizar esse evento aqui, com tantas organizações parceiras, é uma forma de lembrar e resistir.”

Arte como resistência

A programação transformou as ruas em um palco vivo, com apresentações de artistas como DJ Viny Rodrigues, Grupo Baque CT, Terreirão do Samba SP, Rappin Hood, Coletivo AMEM, Versus e Os Diplomatas, entre outros. Para Edneia Gonçalves, coordenadora executiva adjunta da Ação Educativa, a diversidade do evento reflete a força da arte na luta antirracista. “A programação trouxe uma diversidade de aprendizados que dialogam com a resistência negra. Arte, cultura, territórios e educação se articulam para indicar os elementos de um futuro mais igualitário.”

Lidia Lima, da KOINONIA Presença Ecumênica, celebrou a oportunidade de ocupar as ruas com uma ação cultural tão plural e potente. “Estamos felizes em fazer parte desse evento no ano em que a Koinonia celebra 30 anos junto com a Ação Educativa. Ocupamos o espaço para discutir questões urgentes, como racismo ambiental, juventude negra e direitos humanos. É uma celebração, mas também um ato político.”

O evento contou com a presença dos jovens do “projeto Afluentes”, e das jovens ativistas do projeto “MUDE com Elas”, além de moradores e trabalhadores da região. Dora Lia, assessora de comunicação da Abong, celebrou a presença da comunidade durante a ação.

“A gente está muito feliz, muito feliz mesmo ter comemorar o Novembro Negro junto a Ação Educativa, com Fesp. Ver que a comunidade também está presente, deixa tudo mais legal, ver os pais e os filhos brincando com os jogos que nós trouxemos e colocamos nas ruas….tudo isso deixa a gente bastante feliz”, afirma Dora.

Um território de encontros e memória

Eleilson Leite, Coordenador institucional de Cultura da Ação Educativa, destacou a importância de ocupar o centro como ponto de encontro das periferias. “São Paulo é uma cidade gigante, e o centro é o melhor lugar para reunir a periferia. Esse evento materializa essa articulação entre cultura negra e ações antirracistas”, Para Eleilson, promover esse evento entre as ações que celebram os 30 anos da Ação Educativa é reforçar o compromisso histórico da entidade, junto às organizações parceiras, de manter viva a memória dos coletivos e movimentos negra, sempre ressaltando a potência de criar novas histórias a partir desse território.”

A importância da organização conjunta também é vista como positiva por Janaina Santana, do Comitê de Cultura de São Paulo, que ressalta a importância das atividades políticas e culturais estarem cada vez mais próximas da população.

“Essa é uma atividade incrível de apropriação do território na rua, é uma oportunidade de fortalecer todos os nossos saberes, nossas ancestralidades, nossas tradições. Estar aqui, com o samba rolando, com tantas organizações parceiras, e tanta gente celebrando junto é motivo de muita alegria”, celebra, Janaína. 

Por fim, Raquel Luanda, supervisora do Centro de Eventos, explica que a programação da atividade foi pensanda para garantir a presença e o destaque de artistas, grupos e coletivos negros, LGBTQIA+, juvenis e educacionais, característica que tem marcado as ações da Ação Educativa. 

“Ocupar a rua faz parte das nossas atividades. Nosso espaço tem um edital aberto para coletivos que não têm financiamento para realizar eventos e atividades. É sobre abrir portas e criar espaços de diálogo e celebração.”, explica Raquel. Por meio do chamamento público, são contempladas atividades abertas à comunidade, que dialogam com a missão institucional de defesa de direitos.

O evento reforça o compromisso da Ação Educativa e seus parceiros com a defesa dos direitos e a valorização das expressões culturais negras, convidando o público a participar desta importante celebração da resistência e identidade.

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