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Entendendo a programação cultural: Jovens Monitores/as participam de ciclo de formações sobre o tema

A ideia do ciclo foi fornecer um repertório sobre as questões que envolvem a programação cultural, o ofício de programador/a e a comunicação da programação

A programação cultural é um dos elementos centrais de uma instituição ou equipamento de cultura. Para entender a centralidade desse tema, bem como os processos e elementos envolvidos, os jovens monitores/as culturais do CCJ – Centro Cultural da Juventude, das Bibliotecas Públicas e do Museu da Cidade & Arquivo Histórico contaram com uma série de formações sobre o tema durante o mês de abril.

As formações abordaram conceitualmente a programação enquanto criação, a construção de uma narrativa, a relação do/a programador/a com o artista, o lugar da programação em um espaço cultural, a programação em linguagens e a comunicação de uma programação cultural.

Segundo Antonio Eleilson Leite, coordenador da área de cultura da Ação Educativa, para entender programação é essencial compreender o ofício do/a programador/a. Ele afirma que o/a programador/a é, ao mesmo tempo, autor, produtor e mobilizador, respondendo aos interesses do público do equipamento onde atua e das diretrizes da instituição. “A programação consegue fazer com que alguns espaços sejam reconhecidos em determinadas temáticas”, disse.

Eleilson apontou quatro eixos para se entender o processo da programação: a sua poética; a construção de uma narrativa, ou seja, o fio condutor que irá encadear as atividades; a programação como criação de um imaginário, no campo da produção simbólica; e a programação como ideologia e utopia.

Eleilson ressaltou que o trabalho do programador serve para, dentre outros pontos, formar e fidelizar o público de um determinado equipamento cultural, além de ampliar e inquietar esse mesmo público. Falou ainda que esse trabalho tem começo, meio e fim: “Ação cultural é aquela que você faz em um espaço e tempo definidos e com um objetivo específico”, disse.

Em que pese todas as condicionantes que atuam sobre o/a programador/a, ele ou ela necessita de liberdade de criação. Assim, o aspecto subjetivo dessa atuação não pode ser subestimado e o/a programador/a deve ser alguém muito conectado/a, sensível e criativo. Também precisa estar em sintonia com os artistas e os públicos. “É a sensibilidade dele que aponta. A cara de uma instituição cultural, em certa medida, é a programação que dá”. É importante ressaltar também que ele não atua sozinho, e sim com a produção, com o educativo e com os outros setores da instituição cultural.

Os jovens monitores/as culturais, durante esse processo, puderam analisar, em grupos, duas amplas experiências de programação na cidade de São Paulo: o Sesc e a Prefeitura. As discussões possibilitaram um debate em torno do público e do perfil de cada espaço analisado, a aposta em determinadas linguagens, a estética de cada programação e o objetivo geral de cada equipamento.

Também propuseram, ainda em grupos, uma atividade para a programação do encontro Estéticas das Periferias, realizado pela Ação Educativa e por parceiros anualmente no mês de agosto. Tal atividade deveria seguir os eixos curatoriais do encontro (cultura negra, direito à cidade, futebol e cultura, meio ambiente e direitos humanos).

 

Conhecendo experiências em programação

Após as formações conceituais, os jovens contaram com a presença de Euler Alves, Naruna Costa e Thiago Saraiva para contar suas experiências em programação em instituições de perfis diferentes, trazendo o conceito para as práticas cotidianas.

Naruna apresentou o histórico do Espaço Clariô, localizado em Taboão da Serra, e como o local foi se constituindo enquanto um espaço de programação. Fundado em 2005, o Espaço Clariô está localizado no centro da cidade, mas, ainda assim, é considerada uma região periférica por ser desprivilegiada de serviços públicos. Junto com a formação da sede, veio o grupo de teatro e a vontade de criar espetáculos. O coletivo pesquisou o entorno e foi experimentando para fazer do seu próprio espaço uma experiência criativa. Concomitante ao processo de laboratório, nasceu o que eles chamam de “portas abertas do Clariô”.

Assim surgiram outras programações que dão vida e sentido ao lugar, como o “Quintasoito”, encontro que acontece toda última quinta-feira do mês. Inicialmente, a ideia surgiu da vontade de trazer literatura para o espaço e conhecer as pessoas que estavam fazendo isso no entorno. Com o tempo, essa programação foi se aprimorando e fortalecendo a ideia de alimentar esta experiência artística e política de fazer um empreendimento daqueles na região: “O nosso objetivo era apenas conhecer, trazer aquelas pessoas da borda para colaborar com nosso conhecimento”.

Já Euler Alves falou da experiência do evento “Noite dos Tambores”. Baiano, Euler chegou a São Paulo no início da década de 1990 e compartilhou parte de sua trajetória no campo da militância e da cultura para explicar como surgiu a ideia do evento.

Com o projeto feito, criaram a atividade em 2011, realizando a “Noite dos Tambores” em maio, perto do dia 13 – Dia Nacional de Combate à Discriminação Nacional. Para Euler, o tambor é o instrumento que está em todas as culturas. “A ideia era concentrar no tambor nossa inquietude”. No primeiro ano de evento, foram programados apenas shows. No segundo, com o apoio do Sesc, a ideia era agregar coletivos mais locais.

Foi então que passaram a perceber que precisavam tocar na questão da produção de conhecimento. “A ideia é gerar conhecimento a partir do tambor”, contou Euler. Ele conta que o processo de programar foi natural, porque começou com pessoas próximas. Pela “Noite dos Tambores” já passaram 42 grupos, com aproximadamente 15 pessoas em cada.

Thiago Saraiva trouxe a experiência das Fábricas de Cultura administradas pela Poiesis, empresa que faz a gestão de cinco delas. Thiago compartilhou sua trajetória e fez reflexões sobre a ideia de atuação do/a programador/a cultural. Explicou ainda os objetivos das Fábricas de Cultura, que tem a formação cultural como o carro-chefe, em que a programação auxilia esse eixo. Com a prerrogativa de pensar a produção cultural, por exemplo, eles inauguraram cinco estúdios de gravação livres e abertos nas Fábricas.

Thiago também falou, em termos gerais, sobre como eles compõem a programação cultural nas Fábricas de Cultura, através do contrato de gestão entre Poiesis e Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo.

 

Comunicando a programação cultural

Finalizando o ciclo, a última etapa se deu na compreensão das especificidades de comunicar uma programação cultural. Estiveram presentes Juliane Cintra, coordenadora de comunicação da Ação Educativa; Elizandra Souza, editora da Agenda Cultural da Periferia; e Alexandre de Maio, um dos idealizadores da plataforma Catraca Livre.

Alexandre de Maio iniciou o diálogo contando um pouco de sua trajetória pessoal. Quando mais jovem, criou uma revista sobre Rap, chamada Rap Brasil, em 1999. A partir dessa iniciativa pioneira, ele lançou várias revistas de Hip Hop e editou-as durante 10 anos. Depois que Alexandre parou de produzir a revista, continuou sua carreira como jornalista e quadrinista. Fez reportagens para a revista Raça, para a Agência Pública, Greenpeace, Fórum, Playboy, Placar etc. Sempre gostou muito de tecnologia e de entender o universo dos sites. Foi quando encontrou a plataforma Catraca Livre. A ideia era “mostrar que a cidade tem vários lugares acessíveis”.

Alexandre abordou algumas estratégias e dicas de divulgação, falando também da linguagem que se utiliza nas redes sociais, em que os relacionamentos se dão de maneira viva, interativa e rápida. Além disso, explicou algumas métricas e estatísticas de compreensão das redes sociais e, em especial, do Facebook.

Juliane Cintra trouxe algumas ações e campanhas realizadas pela Ação Educativa para tratar do tema da comunicação da programação cultural. Ressaltou aspectos da comunicação no meio cultural que os jornalistas têm que lidar cotidianamente, como aqueles técnicos e de planejamento para a comunicação.

Para ela, é importante entender de que evento se trata e para quem ele é direcionado quando você vai divulgar programação. “Às vezes, emplacar o evento no guia cultural da Folha de S. Paulo não é necessariamente o que vai trazer público”.

Ela também chamou atenção para o fato de que as próprias plataformas e redes sociais mudam e que elas devem ser um meio, e não um fim. Ao final, a jornalista trouxe uma lista de sites e dicas para entender e abordar a comunicação na Internet e nas redes sociais.

Já Elizandra Souza, assim como Alexandre de Maio, falou de sua trajetória pessoal enquanto jornalista e poetisa. Elizandra cursou jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie e foi cotista pelo programa ProUni (Programa Universidade para Todos). Atuou como estagiária na Agenda Cultural da Periferia, tornando-se editora em seguida. “As políticas públicas tem um impacto direto nas trajetórias pessoais”, afirmou durante sua fala.

Contou sobre a criação do fanzine Mjiba, que fez durante o Ensino Médio, em 2001, e que durou até 2005, tornando-se depois um coletivo artístico de mulheres negras.

Sobre a Agenda Cultural da Periferia, ela abordou as perspectivas e desafios enquanto veículo de comunicação, afirmando que a Agenda tem um papel importante para fomentar a compreensão da comunicação por coletivos culturais, adquirindo aspectos como assessoria de imprensa.

Os jovens monitores/as culturais presentes puderam tirar suas dúvidas e trazer questões para os palestrantes. Abordaram temas como o mercado profissional de comunicação, o planejamento necessário nessa etapa, produção e distribuição de material impresso, redes socais, comunicação e mobilização. Também pediram dicas de produção de texto, pensando na ampla divulgação de determinadas ações e eventos realizados no âmbito do Programa.

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