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Escolas indígenas discutem como relações raciais influenciam na qualidade da educação

No último dia 24 de abril, escolas de Dourados (MS) realizam atividades a partir dos Indicadores da Qualidade na Educação – Relações Raciais na Escola

Como o racismo e outras formas de discriminação podem influenciar na qualidade da educação? Quais são as especificidades da educação escolar indígena? Essas foram algumas das perguntas que nortearam as atividades realizadas, no último dia 24 de abril, por quatro escolas, sendo duas indígenas e duas rurais, do município de Dourados, no Mato Grosso do Sul. Na ocasião, os participantes discutiram qualidade na educação, racismo e discriminações por meio dos Indicadores da Qualidade na Educação – Relações Raciais na Escola.

As escolas envolvidas foram as municipais José Eduardo Canuto Estolano -“Perequeté”, Antônio Vicente Azambuja e Pai Chiquito e a estadual Guateka. Ao todo, estiveram presentes cerca de 80 representantes das comunidades escolares. Entre eles, havia estudantes, professores(as), lideranças comunitárias, representantes das equipes técnicas das escolas e da Secretaria Municipal de Educação.

“As atividades foram interessantes, percebemos que para os participantes o conceito de qualidade na educação está relacionado à democratização do acesso e da permanência dos estudantes nas escolas, à participação da comunidade na gestão educacional e ao combate às discriminações no ambiente escolar”, destacou a assessora da ONG Ação Educativa, Cláudia Bandeira.

No período da manhã, tanto Cláudia quanto Jaqueline Santos, que também é assessora do Programa de Diversidade, Raça e Participação da Ação Educativa, discutiram com o grupo como as formas de discriminação e de racismo aparecem não só na cidade, mas também em suas comunidades, escolas e nas relações entre professores e alunos e entre os próprios alunos.

Iniciando o debate, Jaqueline provocou a discussão sobre qualidade educacional a partir dos diferentes conceitos: racismo, preconceito e discriminação. De acordo com ela, “os grupos evidenciaram em suas apresentações situações de preconceito e discriminação vivenciadas em sala de aula com estudantes indígenas que são excluídos dos processos pedagógicos por conta de sua origem étnico-racial”.

Durante a plenária, os estudantes compartilharam situações de discriminação vivenciadas nas escolas. “O modo de falar, já que [o aluno indígena] não consegue falar direito o português, não porque não sabe, mas porque tem dificuldades. Por exemplo, a língua Guarani não tem o artigo “a” ou “o” e, como o português se constitui como uma língua estrangeira, muitos professores não entendem”, exemplificou uma estudante indígena durante sua apresentação.

Outro depoimento apresentado por aluna durante a atividade: “o preconceito com o estilo do cabelo ocorre mais entre as meninas. Quem tem cabelo enrolado quer ter liso e daí eles [outros estudantes] falam: ‘ah seu cabelo é pichuá’. Eu não posso ir pra uma festa porque meu cabelo é ruim”.

Durante o debate entre as assessoras e os participantes na primeira parte do dia, também foram relatadas outras formas de discriminação em relação à religiosidade e às vestimentas utilizadas pelas populações indígenas.

Já no período da tarde, a assessora Cláudia Bandeira apresentou a metodologia dos Indicadores da Qualidade na Educação – Relações Raciais na Escola, que foi vivenciada pelos participantes organizados em grupos. “A ideia é discutir a metodologia dos Indicadores da Qualidade na Educação para que as comunidades escolares possam refleti-la de acordo com suas realidades”, ressaltou Cláudia. E acrescentou: “as principais contribuições da metodologia dos Indicadores na disputa pelo conceito de qualidade educacional para estas escolas indígenas se dá a partir do momento em que discutimos os temas da avaliação, da participação e das desigualdades”.

De acordo com ela, “a perspectiva é que se continue realizando atividades com estas escolas em Dourados, de forma que o debate sobre os Indicadores contribua efetivamente com o combate ao racismo e com a democratização dos processos educativos nas escolas”.

Esta atividade foi desenvolvida pela Ação Educativa e Campanha Nacional pelo Direito à Educação no marco da Campanha Por uma infância sem racismo, do UNICEF.

Fonte: Indicadores da Qualidade da Educação

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