Notícias
Compartilhar

Mostra de Artes Cênicas Estéticas das Periferias entra na 3ª edição em 2018; confira a programação

Gil Marçal, curador da Mostra, fala sobre identidade da programação e detalhes do processo de curadoria

Tempo, espaço e linguagem se entrelaçam através da Mostra de Artes Cênicas Estéticas das Periferias 2018. A programação traz uma série de apresentações de teatro, dança e circo, todas gratuitas, promovendo uma experiência que potencializa a troca entre quem faz e quem vê, abrindo espaço para os grupos de arte mostrarem o que estão produzindo, os temas discutidos e toda a diversidade estética explorada por eles. É em busca desta experiência extra cotidiana, praticada por estes grupos, que a programação da Mostra foi pensada e construída.

A Mostra apresenta produções de grupos de artes cênicas das periferias que nos desafiam a pensar formas de como pôr em prática a cidadania no Brasil, através de temas como o racismo, o machismo e a homofobia, sempre entrelaçados historicamente no processo de exclusão social.

Em homenagem ao dia das mulheres, a Cia. UNA Teatro apresenta o solo “Memórias do Rio, do Rei e do Dia”, livremente inspirado em Diadorim, personagem do romance “Grande Sertão: Veredas”. O Dia Nacional do Circo também é lembrado pelo grupo Circo Teatro Palombar, apresentando “A Fabulosa Charanga dos Excêntricos”.

Na dança, temos o trabalho contemporâneo da Cia. Diversidança apresentando o “Manifesto para outros manifestos”; o tradicional do oeste africano apresentado pela Cia. Fankama Obi no espetáculo “Kodon”; e a Cia. Treme Terra realizando o “Macumba Jam” – encontro aberto de música e dança negra contemporâneas baseada na mitologia dos orixás. A leitura cênica “Bixa Monstra Presidenta”, que será realizada pela Cia. Humbalada no mês de junho, se conecta ao Dia Mundial do Orgulho Gay.

Ainda farão parte os espetáculos “Show do Pimpão” da Brava Cia.; o Coletivo Dolores Boca Aberta apresentando seu “Rolezinho”; o Selo Homens de Cor apresentando o projeto “Negror”; e o “Circo Fubanguinho” da Trupe Lona Preta. Alguns trazem a linguagem cômica, ácida e necessária, outros utilizam o teatro panfleto, mas todos desenvolvem uma arte política e comprometida com a busca de um pensamento e uma maneira ativa de promover mudanças.

Todos os grupos têm uma longa caminhada na construção de sua arte e estão na luta para realizar suas produções, com anos de atuação e sendo também referência em suas localidades e territórios. Esse compromisso é, de certa maneira, uma marca da linguagem das estéticas das periferias, em que promover arte e cultura para aqueles que estão à margem da participação no sistema social em que estamos inseridos não é uma escolha, é uma necessidade.

Essa é a explicação de Gil Marçal, curador da mostra, que comemora a consolidação do evento como um espaço de experimentação, visibilidade e aprofundamento estético das produções cênicas realizadas pelos grupos de teatro, dança e circo das periferias. Marçal salienta que ao mesmo tempo que as apresentações exploraram diversos métodos e temáticas, a aproximação com o público, o desejo de encontro com as pessoas e a facilidade de acesso são características em comum de todos os participantes da mostra.

Por fim, Marçal salienta a qualidade técnica dos grupos periféricos que não pode ser confundida com a lógica de “profissionais” x “amadores”. “Todos os grupos participantes da mostra são profissionais de acordo com os critérios estabelecidos por nossa sociedade. A diferença é que estes grupos da periferia entendem que tem um compromisso com as pessoas de suas comunidades”, observa.

A Mostra de Artes Cênicas é um evento que vem se consolidando ano após ano. O que ele representa e qual a importância dele para essa linguagem artística?
A Mostra vem se afirmando, ano após ano, como um espaço de experimentação, visibilidade e aprofundamento estético das produções cênicas realizadas pelos grupos de teatro, dança e circo das periferias. A Mostra possibilita reunir trabalhos de grupos que têm atuação nas periferias da cidade ou trabalham com temas e questões de interesse social. Sua existência colabora diretamente para a afirmação destes trabalhos, de seus fazedores e as das pautas que os movimentam, tendo em vista que suas produções não foram realizadas a partir da ótica do mercado e sim da necessidade de democratização do acesso e da experimentação cultural. Por fim, a Mostra colabora diretamente para o fortalecimento destas produções e grupos e ao realizá-la contribui ainda para que o conjunto destas produções sejam valorizadas e reconhecidas pelo seu trabalho e identidade estética.

Quais os destaques da Mostra de Artes Cênicas 2018?
Alguns trabalhos estabelecem relações com datas comemorativas. Abrindo a Mostra no mês de março, dedicado às mulheres, temos o solo “Memórias do Rio, do Rei e do Dia” da Cia. UNA Teatro, é livremente inspirado em Diadorim, personagem icônica do romance Grande Sertão: Veredas. Março também é marcado pelo Dia Nacional do Circo que aqui será comemorado pelo grupo Circo Teatro Palombar apresentando “A Fabulosa Charanga dos Excêntricos”. A leitura cênica “Bixa Monstra Presidenta”, que será realizada pela Cia. Humbalada no mês de junho, se conecta ao Dia Mundial do Orgulho Gay. O programa de dança, com a Cia. Treme Terra, Diversidança e Cia. Fankama Obi, que vai do tradicional africano ao contemporâneo brasileiro, e ao mesmo tempo rompendo com os rótulos ou estigmas do que é popular ou erudito. Destacaria ainda o “Show do Pimpão” da Brava Cia., que é uma referência no teatro na zona sul e o Coletivo Dolores Boca Aberta apresentando seu “Rolezinho”, sendo que ambos realizam arte política e comprometida com a busca de um pensamento e uma maneira ativa de promover mudanças em seus territórios.

São diversos grupos, diferentes espetáculos, temas e abordagens. Há um elemento que unifica as apresentações, uma identidade entre elas?
Em comum, os coletivos e grupos que compõem essa programação buscaram encenações que podem ser feitas nas ruas, praças e pequenos espaços alternativos, na busca de promover um encontro com os públicos mais diversificados e também com menos acesso às produções cênicas na cidade de São Paulo. Em seus trabalhos é evidente a influência da cultura popular, do circo mambembe, dos causos e contos tradicionais, das rodas de conversa nos bares e da opção pela quebra da quarta parede, aproximando e dividindo o espaço com os encontram para conhecer e vivenciar sua arte. Todos têm uma longa caminhada na construção de sua arte e estão na luta para realizar suas produções, com anos de atuação, e sendo também referências em suas localidades e territórios. Têm em comum a preocupação em dialogar de forma compreensível e sensível com sua comunidade. A arte feita na periferia promove uma experiência extra cotidiana entre aqueles que produzem e aqueles que assistem, assim ambos são potencializados nesta troca onde a estética prevê potencializar quem faz e quem vê. É em busca desta experiência extra cotidiana, praticada por estes grupos, que a programação da Mostra foi pensada e construída promovendo apresentações de teatro, dança e circo gratuitos e para todos os públicos.

Como se dá a “troca entre quem faz e quem vê”, na Mostra?
Todos os espetáculos pressupõem uma participação ativa entre quem faz e quem está presente, seja por meios sensoriais ou participação direta, todos estes grupos propõem uma experiência junto ao público com o sentido de promover uma trajetória conjunta entre artista e público na história contada. O objetivo é que as pessoas saiam diferentes de quando o espetáculo inicia até o seu fim.

Hoje há mais pontos de contato ou existe uma distância entre a arte cênica “periférica” e a “acadêmica” ou “profissional”? Ou esse debate não existe (ou não deveria existir)?
Todos os grupos participantes da Mostra são profissionais de acordo com os critérios estabelecidos por nossa sociedade, a maior parte tem formação superior na área, documentos e registros profissionais e longa experiência nas suas produções. Todos estudaram a história da arte e os grandes autores, todos utilizam meios e ferramentas usuais da linguagem e todos cumprem uma função social. A diferença é que estes grupos da periferia entendem que têm um compromisso com as pessoas de suas comunidades que não têm recursos para pagar o ingresso de um espetáculo ou mesmo não tem costume de acessar vivências artísticas, então estes grupos, em sua maioria, entendem que seus trabalhos têm tarefa de aproximar as pessoas das artes com vistas a fortalecer os direitos culturais e, por consequência, o desenvolvimento de pensamento crítico.

O compromisso com a comunidade, a ideia de ser entendida e reconhecida por ela, é uma característica comum aos grupos que se apresentam na Mostra? Qual a importância de ter essa preocupação?
Sim. Esse compromisso é de certa maneira uma marca da linguagem das estéticas das periferias, onde promover arte e cultura para aqueles que estão à margem da participação no sistema social em que estamos inseridos não é uma escolha, é uma necessidade. Trabalhar a linguagem, os temas e as histórias de forma que as pessoas mais simples possam se identificar, e isso sem baratear o conteúdo ou a forma, é um dos grandes feitos destes grupos em seus territórios.

Confira a programação:

Mostra de Artes Cênicas Estéticas das Periferias 2018
22 de março – Cia. UNA Teatro, “Memórias do Rio, do Rei e do Dia”
29 de março – Circo Teatro Palombar, “A Fabulosa Charanga dos Excêntricos”
19 de abril – Cia. Fankama Obi, “Kodon”
26 de abril – Selo Homens de Cor, “Negror”
24 de maio – Cia. Treme Terra, “MACUMBA JAM”
31 de maio – Cia. Diversidança, “Manifesto para outros manifestos”
21 de junho – Brava Companhia, “O show do Pimpão”
28 de junho – Cia. Humbalada, “Bixa Monstra Presidenta”
19 de julho – Trupe Lona Preta, “O Circo Fubanguinho”
26 de julho – Dolores Boca Aberta, “Rolezinho”

Com informações da Agenda Cultural da Periferia
Foto: “Memórias do Rio, do Rei e do Dia”, Cia. UNA Teatro.

Comentários: