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“O momento nos cobra outras estratégias de resistência democrática”

Em debate na Ação Educativa, Nilma Lino Gomes e Miguel Arroyo falam sobre as perspectivas para um novo projeto de educação

A reconfiguração de forças em nível internacional, com a retomada do conservadorismo e com os retrocessos políticos e destruição de direitos, se configura como uma resposta à uma luta contra hegemônica fortalecida nas últimas décadas em vários países, em especial na América Latina. Foi o que apontou Nilma Lino Gomes, professora, pesquisadora e ex-ministra das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos do Brasil, durante o debate O golpe e a educação: estratégias de resistência e perspectivas para um novo projeto, realizado na quarta-feira (21/02) na Ação Educativa. O evento também contou com a presença de Miguel Arroyo, professor titular emérito na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marcos Sorrentino, professor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ), e Denise Carreira, coordenadora executiva da Ação Educativa.

Além do debate, também foram lançados os livros: “O Movimento Negro Educador”, “Passageiros da Noite: do trabalho para a EJA”, “Igualdade e Diferenças nas Políticas Educacionais: a agenda das diversidades nos governos Lula e Dilma” e “Educação, agroecologia e o bem viver”, dos participantes da mesa. A Ação Educativa também apresentou a programação de 2018 do Centro de Formação: Educação Popular, Cultura e Direitos Humanos, que prevê uma ampla oferta de atividades: oficinas, cursos, rodas de conversa e percursos em aliança com várias organizações da sociedade civil, movimentos sociais, coletivos e ativistas, parceiras e parceiros de luta pela afirmação dos direitos humanos nos país. O Centro de Formação faz parte de uma estratégia institucional de resistência aos recentes retrocessos no campo dos direitos e de anúncio, de pesquisa e de experimentação de novas possibilidades formativas. A programação completa pode ser vista em: http://centrodeformacao.acaoeducativa.org.br

Ao final do debate, foi apresentado o trailer do documentário “Fora de Série”, produzido pelo Observatório Jovem do Rio de Janeiro, que percorre 13 escolas públicas do estado em que jovens estudantes do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos narram seus percursos de vida e contam histórias sobre seus relacionamentos com a escola. Saiba mais aqui.

Golpe, educação e lutas emancipatórias

Relembrando que os processos econômicos, históricos e políticos brasileiros foram baseados na colonização e na escravização, Nilma ressalta que o que está em jogo são diferentes projetos de país, de sociedade, de educação, de direitos humanos e de emancipação. Falou ainda que o após o golpe é chegada a onda de violência, citando a intervenção militar no Rio de Janeiro como uma sinalização de um piloto social.

Para Arroyo, os “golpeados” são os setores populares, que têm lutado pelo “direito a ter direitos” e estão, em especial, nas escolas públicas. Segundo ele, uma das funções da escola é que esses setores saibam os motivos desses golpes, que faz parte de um processo histórico. “Em que medida a própria educação não está sendo golpeada?”, pergunta. Já Marcos Sorrentino afirma que os golpes na educação são dados constantemente por meios de comunicação, que estigmatizam as escolas públicas e nos colocam “com medo de reivindicar uma escola a favor da emancipação”.

Nilma acredita que momentos de debate são muito importantes não só para se denunciar, mas para termos interpretações diferentes dessa conjuntura que estamos vivendo. “O momento nos cobra outras estratégias de resistência democrática”, afirma. Redes sociais, mobilização nas ruas, produção de conhecimento e diálogos no cotidiano foram algumas das ferramentas apresentadas.

Sobre seu livro, ela indica que todo e qualquer movimento social atua como educador na sociedade, dinamizando as relações sociais, educando o Estado, as instituições, as pessoas e a si mesmos. Nesse sentido, os movimentos negros têm uma forte dimensão educativa no que diz respeito à superação do racismo e à compreensão das culturas negras na sociedade brasileira. Relata ainda que os movimentos de caráter identitário surgiram no contexto da luta contra a ditadura e já naquela época apontavam as desigualdades sociais e econômicas como uma marca do país. No entanto, ressalta que o capitalismo não se sustenta apenas na exploração de classe. “O capitalismo e as desigualdades reeditam fenômenos de exploração e de desumanização históricos”. Nesse sentido, Arroyo aponta que a escola passou a ser um lugar de garantia de vida, uma vez que protege vidas ameaçadas, desumanizadas.

Por fim, a ex-ministra afirma que é necessário uma articulação de forças nas lutas emancipatórias, que devem encontrar pontos em comum, uma vez que a busca por respostas devem ser coletivas. “A própria complexidade da diversidade no Brasil e da desigualdade desse país também se expressa nos sujeitos, nos seus pertencimentos e na forma como esses sujeitos participam das lutas democráticas, dos direitos, ou ficam fora”, disse.

Falando especificamente da educação, Sorrentino aponta que os processos educadores precisam superar essa divisão entre escola e educação. Para ele, as políticas públicas podem ser construídas a partir de uma concepção de educação que não se limita ao espaço escolar. “A escola e o processo educador como um todo têm que ser permanente, continuado, articulado com a totalidade das pessoas”.

 

Veja o debate completo abaixo:

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