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Paul Singer é convidado para falar sobre Economia Solidária com jovens monitores do CCJ

O economista e Secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, Paul Singer, foi o convidado da formação que debateu Economia Solidária no Programa Jovem Monitor Cultural, que ocorre semanalmente na Ação Educativa.

No início do encontro, o Coordenador da área de Cultura da Ação Educativa, Antonio Eleilson Leite, ressaltou a importância de contar com Singer na formação. “Paul Singer é uma referência neste tema no país, muito já foi construído graças a sua atuação. Esta oportunidade de troca é fundamental”, comenta.

Em sua explanação, Paul Singer remonta ao século XIX, para falar sobre o conceito e a história da Economia Solidária, mais especificamente a 1844, com o surgimento das cooperativas.

Singer explica que, historicamente, era a época da Primeira Revolução Industrial, das máquinas automáticas, das fábricas e da chamada classe operária: o proletariado. Com condições de trabalho e de alimentação extremamente precárias, homens, mulheres, idosos e crianças, trabalhavam de 15 a 17 horas por dia e eram impedidos, por lei, de se organizar em sindicatos. Nesse contexto, operários têxteis foram despedidos e decidiram criar uma cooperativa de consumo, estabelecendo normas e metas para a sua organização. O fato histórico aconteceu no bairro de Rochdale, em Manchester, na Inglaterra, nascendo assim a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, criando os princípios de Rochdale, conta.

Tais princípios são os que regem, ainda nos dias de hoje, a Aliança Cooperativa Internacional e as cooperativas atuais. “A grande conquista da classe trabalhadora, a meu ver, é a democracia”, disse Singer na formação, salientando que as diretrizes em que se baseiam as cooperativas são uma contribuição importante para isso.

Princípios e valores

Com os choques do petróleo na década de 1980, o mundo econômico, segundo Singer, sofreu a pior crise da história do capitalismo, com um enorme aumento do desemprego e bombas inflacionárias imensas. As mudanças estruturais econômicas e sociais que ocorreram nas últimas décadas fragilizaram o modelo tradicional de trabalho, baseado no ideário capitalista.

Nesse momento de crise, no Brasil e no mundo, a Economia Solidária nasceu apostando nos princípios do cooperativismo. A partir disso, cooperativas foram criadas do Piauí ao Rio Grande do Sul, mesmo sem a atenção da grande mídia. “Há transformações sociais, sobretudo quando não trágicas, sem sangue e ninguém morre, que não são notícia”, afirmou.

Resgatando as lutas históricas dos trabalhadores que tiveram origem no século XIX, sob a forma do cooperativismo, foi redescoberta a Economia Solidária como resposta dos trabalhadores às novas formas de exclusão e exploração no mundo do trabalho. “É uma economia que em vez de competir, se ajuda mutuamente, e isso se chama solidariedade”, afirmou Singer.

Sindicatos e cooperativas são associações de trabalhadores, porém com objetivos diferentes. Enquanto o sindicato é uma associação de defesa dos interesses de vida dos trabalhadores, a cooperativa produz o sustento para seus sócios.

A cooperativa é gerida, dessa forma, por alguns princípios fundamentais para sua constituição: a porta aberta; o direito de voto; a autogestão. A porta aberta significa que uma cooperativa deve aceitar sempre novos sócios, assim como permitir a saída de trabalhadores quando estes desejarem. Dessa maneira, os membros da cooperativa são iguais e possuem uma fração da associação. Já a autogestão significa que quem dirige a associação são os cooperados, não havendo uma figura de autoridade. “Essas decisões devem ser tomadas coletivamente e por voto”, afirmou Singer.

Para Singer, “a cooperativa é a maior invenção democrática e econômica”. Reinventada no final do século XX, a Economia Solidária funda suas bases e utiliza os princípios do cooperativismo para sedimentar sua atuação. De acordo com Singer, há dois tipos de cooperativas: as que produzem e vendem, serviços ou bens; e aquelas que vendem serviços, como de saúde e alimentação.

“A Economia Solidária é fundamentalmente a organização democrática e econômica de jovens, mulheres, indígenas, quilombolas, desempregados, aposentados e quem quiser. Tanto para produzir quanto para consumir”, explica Singer.

Economia solidária na prática

Singer também trouxe a experiência de empresas recuperadas, instituições capitalistas que quebraram, sem conseguir pagar suas dívidas, recuperadas por antigos trabalhadores. Como exemplo, uma mina de carvão em Santa Catarina foi assumida e recuperada pelos mineiros em 1983. No Brasil, existem hoje mais de sessenta empresas recuperadas ativas.

Com um custo menor, as empresas que estavam gastando mais do que ganhavam, agora recuperadas, passam a ganhar mais do que se gasta. “As empresas recuperadas são a paixão de todos nós, acadêmicos, interessados em Economia Solidária”, explica Singer, porque os trabalhadores que agora são sócios gastaram boa parte de sua vida como assalariados e lutadores. “Se nós quisermos entender a real diferença entre capitalismo e Economia Solidária, estude uma empresa recuperada, porque ela passou de uma situação para outra”.

Sobre a relação entre a Economia Solidária e o tradicional mercado capitalista, Singer cita que o principal desafio é a própria comercialização dos produtos e serviços. Para Singer, os trabalhadores da Economia Solidária têm dificuldade de vender seus produtos, seja por questões internas ou externas.

No chamado mercado ideal, todos os compradores e vendedores são iguais. No entanto, quando você tem uma multinacional e uma cooperativa de jovens que fabricam computadores através da reciclagem, não há igualdade.

Dessa maneira, a Economia Solidária tem um enorme respeito pelo consumidor, porque participa e acredita no chamado comércio justo, em que tanto compradores quanto vendedores devem ganhar na troca que realizam, pautando outra forma de funcionamento do mercado.

Além disso, ela é fundamentada pela crença na inteligência coletiva. Singer acredita que o trabalho coletivo proporciona mais chances de se encontrar soluções. “A diversidade é algo que é força para nós. A Economia Solidária se torna mais flexível, mais inteligente e mais duradoura porque tem toda essa gente diferente dentro dela. A diferença ensina”, disse.

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