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Visita ao Memorial da Resistência e violência de Estado compõem formação geral dos jovens monitores/as

A formação, construída em parceria com a Coordenação de Direito à Memória e Verdade da Secretaria de Direitos Humanos, contou com debate sobre a juventude neste contexto

Na segunda-feira (13/07), dia de formação com todos os equipamentos reunidos, os jovens monitores/as culturais visitaram o Memorial da Resistência para debater direito à memória e à verdade e a juventude neste contexto. No período da manhã, os jovens, guiados pelos educadores do Memorial da Resistência e por Amelinha Teles, visitaram a exposição Ausenc’as. Composta por 14 dípticos (pares de fotos), retrata a ausência de entes queridos em 12 famílias de vítimas da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985) e 2 famílias da ditadura argentina (1976-1983). São fotos antigas, tiradas pela família, recriadas na atualidade, mostrando a ausência dos desaparecidos políticos. A mostra conta também com um vídeo, que apresenta o processo de recriação das fotografias.

As antigas celas recriadas também fizeram parte da visita. Amelinha, que esteve presa em uma delas, trouxe sua experiência e memória aos jovens, falando de como era a vida dentro destes espaços. Os nomes gravados nas paredes da cela, por exemplo, era algo importantíssimos aos presos ali. Eram a memória do que tinha acontecido naquelas grades.

No auditório do Memorial da Resistência, Amelinha contou com mais detalhes lembranças do tempo em que ela e sua família foram vítimas da ditadura. Explicou aos jovens que o prédio visitado hoje é completamente diferente do que ela vivenciou. Ela opinou ainda que, no Brasil, há uma grande política para se esquecer ou silenciar o passado: “Buscar a história é um sentido político, porque essa história se repete ainda hoje”, afirmou.

Amelinha pontuou que tão importante como o direito ao nascimento, é o direito ao luto, o qual muitas famílias não tiveram. Em uma última reflexão, ela apresentou outros caminhos, como uma maior valorização pela sociedade das pessoas que passaram por estas situações: “é o reconhecimento público da sua narrativa, do recontar sua história”. Apesar de instaurada tardiamente em 2012, a implementação de uma Comissão da Verdade, que investiga a ditadura e os desaparecidos políticos, foi uma conquista.

Os jovens monitores/as culturais perguntaram e teceram comentários sobre a postura da mulher na resistência à ditadura, o diálogo entre o tema e a escola, entre outros. Ao final, Amelinha indicou algumas leituras e filme para aqueles que desejam se aprofundar no assunto: “Da Guerrilha à Imprensa Feminista”, “Breve História do Feminismo no Brasil” e “Que bom te ver” (direção de Lúcia Murat).

 

Juventude e violência de Estado

No período da tarde, para debater a violência de Estado sobre a juventude no passado e na atualidade estiveram presentes Valdenia Paulino, ativista de direitos humanos, Alípio Freire, ex-preso político, e Cláudio Silva, o Claudinho, coordenador-geral da Coordenação de Políticas para Juventude. A mediação ficou por conta de Carla Borges, coordenadora de Direito à Memória e Verdade da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo (SMDHC).

Abrindo a formação, Carla convidou os jovens a somarem forças ao projeto “Ruas de Memória”, que busca remover 29 endereços que fazem menção a pessoas envolvidas com violação de direitos humanos durante a ditadura militar. Em seguida, Alípio apresentou e lançou uma série de reflexões para a turma. “Você tratar da memória sem tratar do presente ou do futuro vira narcisismo ou nostalgia”, opinou.

De acordo com Alípio, a violência tem sua matriz na estrutura de como o Brasil foi criado. Para ele, o estado brasileiro desde sempre foi construído para repreensão dos trabalhadores. “Lidar com jovens de periferia é ter que lidar com a revolta deles como algo legítimo e canalizar esta revolta para algo positivo”, reflete Alípio, sobre a conjuntura atual.

Claudinho trouxe alguns dados importantes a respeito da juventude para a mesa: menos de 1% de jovens estão praticando crimes violentos; 51% dos jovens envolvidos com criminalidade não estão na escola; a juventude de São Paulo corresponde a 25% dos eleitos da cidade. A partir disso, reafirmou uma das principais políticas da SMDHC, a de humanização dos espaços públicos. Para Claudinho, esta política é fundamental à cidade e esse é o sentido também do/a jovem monitor/a dentro dos espaços.

 

Para finalizar, Valdenia realizou uma dinâmica com os presentes, que abordou a força da coletividade no poder de transformação social, e retomou os temas do direito ao luto. Os  jovens então trouxeram questões e comentários sobre anistia, cooperação entre a juventude e outras gerações, pedagogia do afeto, dentre outros assuntos.

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