Em agosto de 2007, a Secretaria de Estado da Educação
de São Paulo (SEE) divulgou um conjunto de metas,
ações e medidas, intitulado “Uma nova agenda para a
educação pública”. Na justificativa, afirmava que os últimos
censos escolares e as avaliações de aprendizagem
apontam que “o desempenho insuficiente do sistema” é o
principal problema da educação pública de São Paulo.
Para melhorar a qualidade da educação no Estado, foram
estabelecidas dez metas para serem atingidas até
2010, entre elas: todos os alunos de 8 anos plenamente
alfabetizados; redução das taxas de reprovação da 8ª série
e ensino médio; aumento de 10% no desempenho no ensino
fundamental e no ensino médio, nas avaliações estaduais
e nacionais; atendimento de 100% da demanda da
educação de jovens e adultos e com currículo profissionalizante
diversificado.
Foram também anunciadas ações relacionadas a cada
uma das metas (ver páginas 10 e 11) e, por fim, cinco
medidas para a implantação das ações: criação da função
professor coordenador e seleção de 12 mil docentes até
dezembro de 2007; concurso para 300 novas vagas de supervisor
de ensino e revisão de suas atribuições; fortalecimento
do papel do diretor da escola na liderança do processo
de implantação do modelo de gestão; criação de
grupo de trabalho para implantar o ensino fundamental de
nove anos; e criação de comissão organizadora do Plano
Estadual de Educação.
O anúncio do plano, batizado de São Paulo Faz Escola,
não gerou controvérsias, nem mesmo sobre a necessidade de
um novo conjunto de metas, quando o Estado de São Paulo
sequer fez o balanço do cumprimento daquelas estabelecidas
no Plano Nacional de Educação ou informou como pretende
atingir os compromissos firmados com o Plano de Desenvolvimento
da Educação (PDE), formulado em 2007.
Polêmicas
Os primeiros 45 dias do ano letivo foram destinados à
recuperação das aprendizagens em Português e Matemática,
no segundo segmento do ensino fundamental e do ensino
médio. O Jornal do Aluno, material distribuído pela
SEE para o período, foi bastante criticado, não apenas pelos
inúmeros erros gramaticais e equívocos de conteúdo
que continha, mas também por cercear a autonomia pedagógica
dos professores, como demonstram as entrevistas
nas páginas 16 e 17 desta edição.
Na tentativa de uniformizar a aprendizagem em toda a
rede de ensino, a SEE também está distribuindo, a cada bimestre,
a série “Cadernos do Professor”, com orientações
sobre o conteúdo a ser seguido em cada uma das disciplinas
do segundo segmento do ensino fundamental e do ensino
médio. Novamente, houve críticas sobre a limitação
da autonomia dos professores, desconsideração dos planos
políticos pedagógicos das escolas (ver páginas 8 e 9) e das
Diretrizes Nacionais Curriculares.
A resposta da SEE aos comentários foi responsabilizar o
excesso de autonomia das escolas pela insuficiente qualidade
da educação paulista.
Ofício docente
Além de estabelecer o currículo, a SEE implementou
medidas que incidiram diretamente sobre o cotidiano docente.
A premiação financeira das equipes das escolas
abriu um intenso debate entre profissionais da educação,
empresários e setores da sociedade civil. Atores vinculados
ao setor empresarial defenderam a lógica da competição,
que prevê a premiação dos melhores profissionais –
e alguns lamentaram não haver punição para os que não
atingissem as metas esperadas. Outros, foram radicalmente
contrários.
No debate público, chamou a atenção a ausência de
informações confiáveis sobre a eficácia da política de bônus
salariais para a melhoria da qualidade de ensino. Em
entrevista nesta edição (ver página 18), Nathália Cassetari,
mestranda da FE-USP, que pesquisa políticas de premiação
de professores, relata que não há informação sobre
o impacto dessas iniciativas na melhoria da qualidade deensino, porque todas elas tiveram curta duração.
Outras duas iniciativas incidiram sobre o trabalho docente.
Em abril, o Projeto de Lei Complementar 1041/08,
reduziu a seis o número de ausências anuais com pedidos
médicos e, em maio, o Decreto 53.037/08 limitou as possibilidades
de transferências entre escolas dos professores
efetivos, que ingressarem na rede a partir da sua aprovação,
e estabeleceu o concurso público regionalizado.
O conjunto de medidas foi criticado pelos sindicatos
da categoria, por visarem apenas a controlar o exercício
docente sem que houvesse qualquer ação para a melhoria
das condições de trabalho. A busca de soluções para a
superlotação das salas de aula, a inadequação dos prédios,
a ausência de tempo para o preparo das aulas, a morosidade
na distribuição do material pedagógico e outros fatores
insistentemente apontados por sindicatos e pesquisadores
não constam da “Nova agenda para a educação pública”.
Mudanças curriculares
Especificamente para o ensino médio noturno, foi introduzido
o curso técnico em administração, desenvolvido em
parceria com o Centro Paula Souza, na Região Metropolitana
de São Paulo. De acordo com a SEE, no segundo semestre
de 2008, algumas cidades do interior do Estado introduzirão
o ensino profissionalizante por meio de parceria
com instituições privadas.
As reflexões de pesquisadores e professores da rede pública
sobre as conseqüências das mudanças curriculares
no ensino médio estão apresentadas na páginas 12 e 13.
Para a educação de jovens e adultos, ensino médio, a
proposta é oferecer o Telecurso 2000 + 10, em parceria
com a Fundação Roberto Marinho e o Centro Paula Souza,
além da adoção do Exame Nacional para Certificação de
Competências de Jovens e Adultos (Encceja), organizado
pelo Ministério da Educação (MEC).
Falta de diálogo
A formulação e a implementação da “Nova agenda” foram
marcadas pela ausência de interlocução da SEE com
a comunidade escolar e a sociedade civil. A opção foi a divulgação
por meio da imprensa (ver página 3).
Para justificar as ações, a SEE atacou a autonomia da
escola, a conduta dos professores e a atuação das universidades
públicas na formação dos professores. Confira nas
páginas 6 e 7 o balanço do debate entre Romualdo Portela,
professor da FE-USP; Maria Alice Setúbal, diretora-presidente
do Cenpec; Carlos Ramiro, presidente da Apeoesp;
e Ísis Brum, repórter do Diário de S. Paulo, sobre o papel
dessas instituições na formulação de políticas educacionais.
Sobre a ausência de diálogo com os profissionais da
educação na formulação do plano, a SEE alega que recebeu
cerca de 3 mil “idéias” por meio da página eletrônica “São Paulo faz escola” (www.saopaulofazescola.sp.gov.br)
e que as melhores foram utilizadas na formatação das propostas
curriculares. A página foi criada em outubro de
2007 e abriga videoconferências e as versões eletrônicas
dos “Cadernos do Professor”.
Algumas dúvidas
Quase um ano depois do anúncio da “Nova Agenda”,
alguns aspectos ainda precisam ser explicados. A relação
com o MEC é um deles – último Estado a aderir ao PDE do
governo federal, São Paulo criou seu próprio índice educacional
para aferir o desempenho dos alunos. A SEE não
explicou por que destinar recursos financeiros e humanos,
além do tempo das escolas, para tal fim, sendo que há o
Indicador de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)
do MEC, que é o parâmetro nacional de acompanhamento
do cumprimento das metas do plano federal.
Em termos de recursos financeiros, foi anunciado o investimento
de R$ 1,7 bilhão em obras e reestruturação da
rede de ensino, mas não ficaram explícitos qual a fonte
deste recurso e o quanto o Fundeb impactou sobre a ampliação
dos recursos na educação paulista.
Por fim, a “Nova Agenda” prevê ações que serão desenvolvidas
por empresas privadas, como cursos de computação
e língua estrangeira, mas não houve explicação sobre
as razões de se optar por transferir recursos públicos à iniciativa
privada, tampouco dos critérios de contratação e formas
de controle social sobre sua atuação.
|