Como já era prometido desde o final de 2007, o ano
letivo em São Paulo começa com muitas novidades na rede
estadual. Entretanto, os jornais tiveram dificuldades para
acompanhar e noticiar suas propostas e possíveis conseqüências.
Sem um documento oficial que organizasse o conjunto
das medidas, o pacote foi anunciado aos poucos pela
secretaria estadual de Educação e implantado por meio de
decretos, o que dificulta o trabalho dos jornalistas e o
acompanhamento das políticas por parte dos cidadãos.
Em 11 de fevereiro, o jornal O Estado de S. Paulo informou,
em uma pequena matéria, mudanças na carreira
dos servidores do Quadro de Apoio Escolar, por meio de um
decreto do governador. A medida foi considerada importante
pela Secretaria de Educação, mas não foi explicada a
sua relação com a melhoria da qualidade da educação,
anunciada como o objetivo das medidas.
Dois dias depois, a Folha de S. Paulo informou, com
destaque, que já haviam sido definidos os critérios para a
concessão de bônus a professores, diretores e funcionários
de escolas estaduais, cujos alunos melhorassem o desempenho
em avaliações. “Esse indicador de desempenho dos
alunos será aliado às taxas de repetência e evasão das escolas,
para definição do bônus. Juntos, representarão
70% da avaliação das unidades. Nos demais 30%, serão
consideradas as ausências dos servidores e indicadores de
gestão”. Mesmo sem ter explicado em detalhes como funcionaria
esse pagamento, o jornal, em editorial, elogiou
a iniciativa.
A entrega de apostilas aos professores com o objetivo de
uniformizar as aulas foi assunto de matéria do Estado de
S. Paulo em 18 de fevereiro. O uso do “Jornal do Aluno” e
a “Revista do Professor” em aulas de reforço de português e
de matemática, nos primeiros 45 dias do ano letivo, causou
polêmica e dividiu opiniões no ambiente escolar, mas o assunto
passou quase em brancas nuvens nos outros jornais.
Na mesma semana, a revista Veja entrevistou Maria
Helena Guimarães de Castro, secretária estadual de educação
de São Paulo, e a premiação de professores segundo o “mérito” foi o tema principal. Mais uma vez, faltaram informações
sobre a fundamentação da formulação das medidas
e sobraram críticas a professores – divididos entre “talentosos
e esforçados” e “massa de profissionais numa zona
de mediocridade” – e a universidades públicas de Pedagogia, “que num mundo ideal deveriam ser fechadas”.
A secretária desqualificou as críticas à premiação de professores
e justificou a adoção das medidas, citando “experiências
internacionais” e pesquisas já feitas. Entretanto, nenhuma
reportagem ou editorial investigou essas
experiências e pesquisas e se, de fato, podem ser aplicadas à realidade educacional brasileira.
Temas ocultos
O plano da SEE teve ainda inúmeras outras ações, que
foram pouco discutidas pela imprensa. Ensino médio e profissionalização
de jovens, por exemplo, são temas que poderiam
ter gerado pautas importantes. A mídia tampouco
explorou as críticas da SEE ao papel das universidades na
formação inicial dos professores e no desenvolvimento de
pesquisas que contribuam para a melhoria da qualidade do
ensino básico. Faltou o posicionamento das universidades
sobre seu papel na educação básica e também não foi informado
se existem mecanismos de interlocução entre SEE
e universidades na formulação de políticas públicas.
Tendo em vista a capacidade indutora do Estado de São
Paulo nas políticas educacionais, é recomendável que este
plano seja pauta de reportagens e artigos de opinião, envolvendo
diferentes atores, com posturas diferenciadas.
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