agosto de 2008 - Nº 25
 

Divulgação das mudanças não favoreceu acompanhamento


Como já era prometido desde o final de 2007, o ano letivo em São Paulo começa com muitas novidades na rede estadual. Entretanto, os jornais tiveram dificuldades para acompanhar e noticiar suas propostas e possíveis conseqüências. Sem um documento oficial que organizasse o conjunto das medidas, o pacote foi anunciado aos poucos pela secretaria estadual de Educação e implantado por meio de decretos, o que dificulta o trabalho dos jornalistas e o acompanhamento das políticas por parte dos cidadãos.

Em 11 de fevereiro, o jornal O Estado de S. Paulo informou, em uma pequena matéria, mudanças na carreira dos servidores do Quadro de Apoio Escolar, por meio de um decreto do governador. A medida foi considerada importante pela Secretaria de Educação, mas não foi explicada a sua relação com a melhoria da qualidade da educação,
anunciada como o objetivo das medidas.

Dois dias depois, a Folha de S. Paulo informou, com destaque, que já haviam sido definidos os critérios para a concessão de bônus a professores, diretores e funcionários de escolas estaduais, cujos alunos melhorassem o desempenho em avaliações. “Esse indicador de desempenho dos alunos será aliado às taxas de repetência e evasão das escolas, para definição do bônus. Juntos, representarão 70% da avaliação das unidades. Nos demais 30%, serão consideradas as ausências dos servidores e indicadores de gestão”. Mesmo sem ter explicado em detalhes como funcionaria esse pagamento, o jornal, em editorial, elogiou a iniciativa.

A entrega de apostilas aos professores com o objetivo de uniformizar as aulas foi assunto de matéria do Estado de S. Paulo em 18 de fevereiro. O uso do “Jornal do Aluno” e a “Revista do Professor” em aulas de reforço de português e de matemática, nos primeiros 45 dias do ano letivo, causou polêmica e dividiu opiniões no ambiente escolar, mas o assunto passou quase em brancas nuvens nos outros jornais.

Na mesma semana, a revista Veja entrevistou Maria Helena Guimarães de Castro, secretária estadual de educação de São Paulo, e a premiação de professores segundo o “mérito” foi o tema principal. Mais uma vez, faltaram informações sobre a fundamentação da formulação das medidas e sobraram críticas a professores – divididos entre “talentosos e esforçados” e “massa de profissionais numa zona
de mediocridade” – e a universidades públicas de Pedagogia, “que num mundo ideal deveriam ser fechadas”.

A secretária desqualificou as críticas à premiação de professores e justificou a adoção das medidas, citando “experiências internacionais” e pesquisas já feitas. Entretanto, nenhuma reportagem ou editorial investigou essas experiências e pesquisas e se, de fato, podem ser aplicadas à realidade educacional brasileira.

Temas ocultos

O plano da SEE teve ainda inúmeras outras ações, que foram pouco discutidas pela imprensa. Ensino médio e profissionalização de jovens, por exemplo, são temas que poderiam ter gerado pautas importantes. A mídia tampouco explorou as críticas da SEE ao papel das universidades na formação inicial dos professores e no desenvolvimento de pesquisas que contribuam para a melhoria da qualidade do ensino básico. Faltou o posicionamento das universidades sobre seu papel na educação básica e também não foi informado se existem mecanismos de interlocução entre SEE e universidades na formulação de políticas públicas.

Tendo em vista a capacidade indutora do Estado de São Paulo nas políticas educacionais, é recomendável que este plano seja pauta de reportagens e artigos de opinião, envolvendo diferentes atores, com posturas diferenciadas.



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