agosto de 2008 - Nº 25

"Jornal do Aluno retira autonomia do professor"


Regina Miyeki Oshiro, professora de história da rede estadual paulista.

Regina leciona há 21 anos e trabalha na Escola Estadual Prof. Moacyr Campos, na zona leste da capital paulista. Nesta entrevista, realizada no final de junho, ela comenta algumas das medidas implementadas na rede pública estadual de ensino.

Como e quando chegou a sua escola a notícia de que haveria um jornal e que ele deveria ser trabalhado nos primeiros 45 dias?

No primeiro dia de atribuição de aulas, 30 de janeiro de 2008, tivemos conhecimento sobre o jornal de recuperação do aluno.

Qual foi a sua reação? E a de seus colegas?

Fiquei pasmada, porque isso significava retirar a nossa autonomia de planejarmos as aulas e nos considerar incompetentes para definir o que e como trabalhar com os alunos. As reações não foram unânimes: uma parte compartilhou desse espanto e preocupação; a outra, começou a elogiar a iniciativa da Secretaria, porque era a primeira vez que tínhamos material didático para todos e o conteúdo seria o mesmo.

Não discordávamos que seria preciso que a leitura, a interpretação, a escrita e o raciocínio lógico fossem mais bem trabalhados com os alunos; o questionamento era se isto seria possível com um material imposto, que nivela todo mundo, que não leva em conta a diversidade de culturas juvenis.

Eu tenho dez turmas, com uma média de 40 a 45 alunos, e não conhecia a maioria deles. Como iniciar um trabalho com cada turma sem saber minimamente um pouco de cada um?

O que você achou do jornal?

Foi possível perceber que a publicação foi preparada às pressas, sem tempo para ser revisada, vide inúmeros erros, divulgados na imprensa, o que fez com que este material didático perdesse a credibilidade dos alunos. Em História, nos 2º e 3º anos do ensino médio, havia basicamente atividades com textos escritos, que pouco dialogavam com outras disciplinas. Uma das críticas a esta disciplina foi não termos leituras que explorassem outras formas de linguagem.

Como ficou o planejamento da sua escola a partir do momento em que chegou a proposta da Secretaria?

Houve um debate acalorado entre favoráveis e contrários à proposta. No final, decidimos que ela seria adaptada ao trabalho já desenvolvido pela escola e pelos professores, o que não contraria as orientações do Caderno do Gestor, apesar de algumas falas incisivas sobre a obrigatoriedade de seguirmos à risca as tais propostas curriculares.

O laboratório de informática está funcionando?

Não. As máquinas antigas foram retiradas e nos disseram que o laboratório receberá equipamentos novos. Sobre profissionais para trabalhar: o que temos são alunos que estão participando de processo seletivo para atuarem como monitores.

Qual a sua opinião a respeito da política de bônus?

Queremos salário digno, e não bônus! Sabemos que esta política visa a “premiar” os “bons” e “punir” os “maus” professores, pois a secretaria e os que apóiam esta medida vêem os docentes como os principais responsáveis pela má qualidade da educação. Um conceito de qualidade que se preocupa apenas em aferir índices, “treinar” alunos para as diversas avaliações criadas, jamais chegará à qualidade daqueles que almejam uma aprendizagem efetiva, e não números.

Os professores estão faltando menos?

De acordo com os números da SEE, sim. O que as estatísticas não registram é quantos professores têm trabalhado sem condições físicas e, às vezes, emocionais, para tentar ganhar um pouco mais no ano seguinte.


Edições
Anteriores

 | Expediente |
 Para cancelar o recebimento, responda esse email com o assunto "Cancelamento"