Regina Miyeki Oshiro, professora de história da rede estadual paulista.
Regina leciona há 21 anos e trabalha na Escola Estadual Prof. Moacyr Campos,
na zona leste da capital paulista. Nesta entrevista, realizada no final de junho, ela
comenta algumas das medidas implementadas na rede pública estadual de ensino.
Como e quando chegou a sua escola a notícia de que haveria um
jornal e que ele deveria ser trabalhado nos primeiros 45 dias?
No primeiro dia de atribuição de aulas, 30 de janeiro
de 2008, tivemos conhecimento sobre o jornal de recuperação
do aluno.
Qual foi a sua reação? E a de seus colegas?
Fiquei pasmada, porque isso significava retirar a nossa
autonomia de planejarmos as aulas e nos considerar incompetentes
para definir o que e como trabalhar com os
alunos. As reações não foram unânimes: uma parte compartilhou
desse espanto e preocupação; a outra, começou
a elogiar a iniciativa da Secretaria, porque era a primeira
vez que tínhamos material didático para todos e o conteúdo
seria o mesmo.
Não discordávamos que seria preciso que a leitura, a
interpretação, a escrita e o raciocínio lógico fossem mais
bem trabalhados com os alunos; o questionamento era se
isto seria possível com um material imposto, que nivela
todo mundo, que não leva em conta a diversidade de
culturas juvenis.
Eu tenho dez turmas, com uma média de 40 a 45
alunos, e não conhecia a maioria deles. Como iniciar um
trabalho com cada turma sem saber minimamente um
pouco de cada um?
O que você achou do jornal?
Foi possível perceber que a publicação foi preparada às pressas, sem tempo para ser revisada, vide inúmeros
erros, divulgados na imprensa, o que fez com que este
material didático perdesse a credibilidade dos alunos.
Em História, nos 2º e 3º anos do ensino médio, havia basicamente
atividades com textos escritos, que pouco dialogavam
com outras disciplinas. Uma das críticas a esta disciplina foi não termos leituras que explorassem outras formas
de linguagem.
Como ficou o planejamento da sua escola a partir do momento
em que chegou a proposta da Secretaria?
Houve um debate acalorado entre favoráveis e contrários à proposta. No final, decidimos que ela seria adaptada
ao trabalho já desenvolvido pela escola e pelos professores,
o que não contraria as orientações do Caderno do
Gestor, apesar de algumas falas incisivas sobre a obrigatoriedade
de seguirmos à risca as tais propostas curriculares.
O laboratório de informática está funcionando?
Não. As máquinas antigas foram retiradas e nos disseram
que o laboratório receberá equipamentos novos. Sobre profissionais
para trabalhar: o que temos são alunos que estão participando
de processo seletivo para atuarem como monitores.
Qual a sua opinião a respeito da política de bônus?
Queremos salário digno, e não bônus! Sabemos que esta
política visa a “premiar” os “bons” e “punir” os “maus” professores,
pois a secretaria e os que apóiam esta medida
vêem os docentes como os principais responsáveis pela má
qualidade da educação. Um conceito de qualidade que se
preocupa apenas em aferir índices, “treinar” alunos para
as diversas avaliações criadas, jamais chegará à qualidade
daqueles que almejam uma aprendizagem efetiva, e não
números.
Os professores estão faltando menos?
De acordo com os números da SEE, sim. O que as estatísticas
não registram é quantos professores têm trabalhado
sem condições físicas e, às vezes, emocionais, para
tentar ganhar um pouco mais no ano seguinte.
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