agosto de 2008 - Nº 25

"Como ensinar com um material que tem erros?"


Carolina Peixoto do Nascimento e Dênia Romão Ferreira, alunas do ensino médio.

Carolina e Dênia têm 17 anos e estudam na Escola Estadual Tide Setúbal, na zona leste da capital paulista. Comentam como elas e os colegas receberam as mudanças nas escolas públicas paulistas em 2008.

Como o Jornal do Aluno foi recebido por você? E por seus colegas?

A gente chegou no dia 12 de fevereiro, primeiro dia de aula, e foi comunicado que teria um novo material de ensino.

Quando foram buscar na sala dos professores aquele negócio enorme, todo mundo fez uma cara tipo assim: “não acredito”. Podia ter sido uma apostila, uma coisa menor. É de folha grossa, então, vai dobrar, já rasgou... não cabia na carteira.

Mas teve alguma coisa legal no jornal?

É legal porque dentro da escola ninguém vai poder dizer “ah, eu aprendi tal coisa, você não aprendeu.” De alguma forma, está todo mundo no mesmo nível. Dá pra sentar e estudar junto. Têm matérias interessantes. Eu gostei da matéria de Língua Portuguesa, só que na de Matemática, tinha erro...

Então como é que se ensina com uma coisa que tem erro? Não que ninguém possa errar, mas é um material didático. Pelo visto, ele não passou por nenhum processo de revisão, e isto prejudica a gente.

Como os alunos se saíram na avaliação do período de recuperação?

As notas saíram agora. Colocaram um pavor na gente, falaram que aquela nota ia ser a do bimestre e quem fosse mal ia ficar tendo aula de sábado. Só que as provas foram colocadas na sala da coordenação e foram corrigidas aos poucos. As notas serão consideradas só no segundo semestre e vão servir como uma nota a mais.

Além do jornal, foram trabalhados outros materiais?

Teve uma apostila no segundo bimestre só para os professores, com os temas para eles trabalharem com a gente. Para nós, a única coisa que foi mandada foram os livros e a revistinha do DAC [Disciplinas de Apoio Curricular].

O DAC é uma maneira de ter aula diferenciada, de usar a sala de informática, sala de vídeo e outros ambientes da escola. Só que o recurso que tem lá para a aula de DAC é pequeno e é muito raro o dia em que se pode usar.

E a sala de informática?

Só usamos uma vez, e mesmo assim não teve muito efeito. Tínhamos que procurar um texto num site e chega lá, não é o mesmo texto que estava na apostila. A gente acaba se confundindo.

E sobre as faltas dos professores, sentiram alguma diferença?

(Risos) Nenhuma. Não é que os professores faltem muito... No começo do ano, a gente não tinha professor de Geografia, Química e Biologia. A atribuição de aula foi colocada lá em março, já tínhamos tido dois meses de aula. O professor de Química largou nossa sala porque ia arrumar uma escola particular. A gente ficou um tempão sem Química, depois apareceu outro professor. Vai assim: aparece, some...

Os professores demonstram preocupação em seguir a proposta do Jornal?

A maioria dos professores fez de tudo para seguir o jornal, mas a revistinha, não.

O segundo bimestre foi normal, a professora de Português deu seus trabalhos, a de Química também usou o livro. As professoras de História e de Educação Física seguiram a apostila. Com o jornal, todos os professores trabalharam, porque houve uma pressão muito grande. Falavam: “se a gente não cumprir, não vai receber o bônus”.
Eles reclamam bastante, falam: “o professor não pode mais ficar doente”.


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