Nathália Cassetari, pedagoga e mestranda do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da USP.
Há políticas de pagamento por performance em diversos
países, como Índia, Chile, México e em alguns distritos dos
Estados Unidos. Já é possível avaliar se a implantação destas
políticas interferiu na qualidade da educação nestes países?
É muito difícil estudar o impacto que essas reformas tiveram,
porque a maior parte delas não teve continuidade,
acabaram em pouquíssimo tempo. Então, não é possível
estabelecer um estudo confiável.
Como esses países vêm definindo os significados de qualidade
na educação?
A questão do desempenho dos alunos em testes padronizados é o que atualmente tem sido considerado como
qualidade no ensino.
Já o papel do professor nesse desempenho dos alunos
pode ser questionado. Há muitos outros fatores que contribuem
para o desempenho dos estudantes, como as condições
socioeconômicas dos alunos, o nível de ensino dos
seus pais, a infra-estrutura das escolas, biblioteca, laboratório,
a quantidade de turnos que trabalham os professores.
O papel dos professores é importante e tem de ser valorizado,
mas não se pode colocar a culpa exclusivamente no professor.
Quais são os principais argumentos usados pelos defensores
dessas políticas?
Existe uma forte crítica às estruturas de salário tradicionais,
que resultam em salários uniformes. Os autores que
defendem o pagamento por performance falam que os professores
que fazem um trabalho excepcional se sentem
desmotivados. O pagamento por desempenho, por considerar
as diferenças, motivaria os professores a trabalharem mais.
É importante colocar que o salário é, sim, um fator importante
para os professores estarem na profissão, não é só
sacrifício, vontade de cuidar das crianças, há uma questão
profissional. A diferença é pensar como é que esse salário
vai impactar da melhor maneira os professores e atrair, desenvolver,
estimular e reter os melhores docentes na profissão.
Mesmo os profissionais que desenvolvem um bom trabalho
na sala de aula, muitas vezes são estimulados a largar
a docência para assumirem outras funções dentro da
escola, como direção, supervisão, ou então a assumirem,
pelas dificuldades da carreira e de salário, dois, três turnos
diferentes, o que prejudica o seu trabalho.
A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo está
implantando uma política de bonificação para os professores.
Os critérios de bonificação estão claros?
Tudo indica, pelas falas da secretária, que o maior critério
de bonificação será o desempenho do aluno no Sistema
de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São
Paulo (Saresp). Este é um critério fácil de ser entendido,
mas complicado, porque não necessariamente o professor é responsável por esse desempenho no Saresp.
Será muito difícil para algumas escolas melhorarem o
seu desempenho sem que haja um esforço por parte da
Secretaria, um apoio, para ajudá-las a melhorarem.
Não existe mágica da política, é preciso criar condições
para a melhoria da qualidade e desse desempenho. Só a
competição entre as escolas por bônus não é suficiente
para os professores melhorarem.
Segundo a lógica da política de bônus, o professor está sendo
o único culpado pelo desempenho dos alunos?
A culpa é colocada no professor, e isto é interessante
para a Secretaria. Se uma escola está mal no Saresp, a
culpa é dos professores, não é da Secretaria, ela não tem
nada com isto.
Existe uma parcela que é de responsabilidade do professor,
e ele, como profissional, tem de cumprir a sua parte.
Mas para isso é preciso mudanças na carreira. A proposta do
pagamento por performance é a melhor proposta? Eu acho
que não. É preciso pensar uma outra proposta. Isso ainda
não está definido e é muito importante refletirmos sobre essas
questões e elaborar caminhos, propostas alternativas.
|